Ha
sete anos atrás a escolha da sede desta Copa do Mundo envolveu
certamente uma decisão política.
Porque
uma decisão política tem que ser fundamental em um evento meramente econômico?
- A FIFA é uma organização econômica, suas ações, muito embora sejam de
ordenação jurídica e institucional do futebol no mundo, estão antes de tudo
voltadas para o lucro! - Os números que a envolvem são determinantes para
garantir essa afirmação. O principal deles é a estimativa de ganho da FIFA na
Copa do Mundo do Brasil – Algo superior a nove bilhões de dólares (US$
9.000.000.000).
Então,
trata-se de uma decisão política, não por causa dos lucros, mas também e acima
de tudo, por causa dos custos.
Estádios,
infraestrutura, segurança, hotelaria, feriados, legislação, enfim, uma série de
envolvimentos que tem considerável custo devem ser empreendidos e não é a FIFA,
que assume os custos do negócio que detém. Existem outras razões, além dos
custos, que envolvem a decisão política, contudo não são elas que me levam a
reflexão agora, por conta disso, não refletirei sobre elas.
A
decisão política, no caso da Copa no Brasil, envolveu seguramente dois momentos
distintos, o primeiro o da escolha e o segundo da seleção dos locais para que o
evento seja realizado, pois são doze sedes espalhadas em todo o Brasil.
A
decisão política para fazer a Copa foi tomada, especialmente pelo grupo
político que representa o “status quo” no poder na atualidade, mas não foi
assumida somente por eles. Pode se dizer com segurança que a classe política
nacional toda assumiu a Copa de maneira uníssona. Mas porque? Se hoje muitos se
manifestam contrários a realização do evento no Brasil? Isso não me parece
difícil explicar, e está baseada em dois pontos principais, (1) na época da
escolha havia uma comoção nacional em torno do desejo de sediar a Copa,
praticamente todo cidadão brasileiro queria a Copa no Brasil (pessoalmente me lembro
que queria), desta forma, e considerando a classe política nacional, qual o
grupo político que teria coragem de se colocar contra esta proposta (quando
falo em grupo político, me refiro a política partidária, aquela representada
pelos partidos políticos)? (2) haviam interesses regionais por sediar a Copa em
seus estados, portanto, todos os governadores, prefeitos e o restante das
categorias de gestão executiva e legislativa estavam empenhados em apoiar a
proposta de assumir o evento.
Pois
bem, a escolha foi feita, com glamour, pompa e circunstância e estava decidido.
A Copa de 2014 seria no Brasil. Desde lá, já se proclamou que o Brasil faria a
“Copa das Copas”!
Acontece
que a decisão política não é a única ação política para que o evento se
efetive, depois disso ainda se envolve a política para viabilizar-se a Copa,
tanto no aspecto institucional, passando pelas decisões econômicas e
especialmente as administrativas.
Se
não é a FIFA que gasta com a maioria do evento, alguém tem que gastar, e nesse
momento, a política é fundamental, para regular os investimentos privados e
especialmente autorizar os investimentos públicos. Dizem que os investimentos
nos estádios foram todos privados (eu não acredito nisso), muito embora com o
financiamento dos organismos financeiros do Estado (BNDES, por exemplo)
envolvam a interação com o Estado. Além disso, há obras de infraestrutura de
toda ordem, em aeroportos, estradas, espaços urbanos, segurança, decisões
administrativas, e ai não tem jeito, tem de ser o Estado a investir e pagar.
Algumas concessões com a iniciativa privada são possíveis, mas a grande maioria
é sim responsabilidade do estado, é decisão política, e regulação dos
políticos.
A
decisão politica nesse sentido pode se justificar, porque um evento como este
demanda obras que podem ficar para posteridade, na forma de “legados da Copa” e
isso é bom para o país, para os estados, para os municípios. A Copa certamente
deixará muitos legados, não tenho dúvidas.
Mas
se tudo isso é verdade, porque me posiciono contrariamente desta forma, NÃO
assistindo os jogos do Brasil na Copa?
A
resposta está nas outras ações políticas, especialmente considerados dois
aspectos relacionados com a existência da política: (a) administração pública
e, (b) a burocracia política.
A
desordem na gestão pública administrativa, em todos os níveis, nunca se revelou
tão incidente como nos preparativos desta Copa. Obras atrasadas, decisões de responsabilidade
desencontradas, obras não concluídas, obras apenas prometidas e sequer
projetadas, discussões entre os gestores, falta de sintonia entre construtores
e gestores, informações desencontradas, e um outro motivo muito incidente em
todos esses anos, “etecetera”! Dentro do tal “etecetera” ficaram tantas e
inumeráveis desordens, que precisaria de muito mais espaço para indica-las
aqui.
A
outra demanda política que me frustrou nessa Copa do Mundo foi a burocracia
política, que institucionaliza, regula, assegura a realização da Copa.
Estruturas de poder foram criadas e mobilizadas para servir aos interesses
econômicos envolvidos nessa Copa. Leis foram criadas, outras deixaram de
existir, espaços públicos foram destinados a uso exclusivo de empresas
privadas. A FIFA por exemplo, tem o controle sobre o espaço urbano em volta dos
estádios de futebol, mas não sobre as calçadas ou as ruas que ficam em frente
aos estádios, e sim bairros inteiros, quadras e quadras além do espaço dos
estádios atualmente são controladas pela Fifa, garantido esse controle pelo
Estado! Alguns moradores a cinco quadras de estádios de futebol, somente podem
acessar suas casas se estiverem cadastrados como permissionários da organização
econômica. Há muitas outras questões burocráticas que também estão envolvidas
pelo evento, mas pelo numero enorme delas e pelo absurdo que elas representam,
também prefiro deixa-las no campo do “etecetera”!
Agora,
se isso não manifestar indignação em mim, pelas “pataquadas” da gestão pública
e pela máquina burocrática gigantesca que foi mobilizada pelo Estado. Eu sugiro
que pensemos no montante gasto para que esse evento aconteça. Já ouvi, e
acredito, em valores acima dos quinze bilhões de dólares (US$ 15.000.000.000).
A
discussão de resistência e indignação vira uma brincadeira de mal gosto se
lembrarmos de quem somos hoje como país. As deficiências na saúde pública, na
infraestrutura urbana, na educação, na segurança pública, no respeito aos
trabalhadores, na mobilidade urbana, na dignidade cidadã!
Essa
é uma discussão muito mais ampla. Eu pessoalmente estou perdido nela, há duas
eleições que não consigo mais votar, o máximo que faço é anular meu voto, e
dizer aos que estão próximos de mim porque tenho feito isso.
Agora,
há cerca de três horas atrás, quando vinha para casa, pensava na minha
manifestação silenciosa e de omissão ao “escrete canarinho”. Lembrei-me do
Ronaldo “fenômeno”, que certa vez disse que a Copa do Mundo não poderia ser
confundida com os problemas do país. Será mesmo? Certamente não consigo pensar
em uma coisa sem me deprimir com a outra. Ainda me lembro de ter ouvido o
Neymar “Jr” dizer que eles, os jogadores, não seriam os responsáveis por tudo
isso. Será mesmo? Hoje os vejo atendendo a seus patrocinadores e a FIFA, não ao
seu país. Me desculpem os que pensam contrariamente, mas a nossa decisão
política foi de fato errada, e se lá no início ainda poderia concordar com ela,
tudo o que aconteceu de novo me fez agir assim.
A
decisão política foi errada e encaminhada errada, mas tenham certeza os que me
leem, muita gente vai se aproveitar politicamente delas no futuro, seja a Seleção
Brasileira vencedora, ou no caso de uma fatalidade de derrota. Isso não me
frustra, me enoja!
Agora são 19:09 h, não sei se o primeiro jogo
terminou, não sei quanto está (já disse, não estou torcendo contra, só não
estou torcendo), não sei no que isso vai dar, mas gostaria muito que nada disso
estivesse acontecendo, não da forma como está!
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