Blog do Professor César Renato


Depois de algum tempo inativo, e pela disposição e necessidade de estabelecer novamente um canal de comunicação com meus interlocutores externos, este blog volta ao ar.
Nele pretendo, dentro do possível, semanalmente discorrer sobre algumas questões que julgo importantes e que percorrem minhas comunidades em alguma medida, tanto no micro-espaço que me situo, quanto no macro-espaço social onde estamos todos.
Quem pretendo alcançar são aqueles que estou mais perto, como família, especialmente meus filhos, amigos, alunos e colegas em geral. Minhas colocações buscam alcançar meu ponto de vista sobre temas que acredito serem pertinentes a discussão.

quarta-feira, fevereiro 29, 2012

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES

O inicio de uma reflexão a partir do administrador

Antes de uma discussão sobre ética em qualquer âmbito, cabe discuti-la na sua essência, relacionada ao seu conteúdo e ao fenômeno que a representa. Para isso torna-se importante um entendimento da palavra ética. Palavra, na expressão literal, significa para a maioria das pessoas uma atitude boa, solidária, justa, honesta e verdadeira.

Do ponto de vista do fenômeno, ética é uma ciência, ou seja, uma forma sistematizada de entender esse fenômeno. Quando se fala que um sujeito “é ético, agiu com ética ou tem ética”, não se deve referir isso a ciência. Na verdade esse comportamento dito adequado, dentro da prática de valores indica que tal sujeito tem “ethos”, que nesse caso sim, representa “seu modo de ser” ou seu “caráter”.

A ética, contudo não se refere a um único sujeito, mas sim ao coletivo o qual ele pertence, e o conjunto de valores morais que esse grupo de pessoas professa e realiza nessa convivência coletiva. Então o sujeito que age a partir das práticas de seu grupo, está envolvido na ética deste mesmo grupo. Imagine o exemplo de um índio antropófago – Se um “homem branco” for surpreendido por esse índio na floresta, provavelmente o transformará em sua refeição. Certamente os familiares do “homem branco” julgarão esse um ato desumano, irracional, criminoso, contudo na tribo, seus convivas o aclamarão como um bom caçador, que trouxe alimento aos seus.

Essa consideração sobre ética faz lembrar que se confunde esse termo com outros dois, muito próximos na essência. Os valores e a moral. Moral, palavra originária do latim “mos” ou no plural “mores” significa costume, se transferido para o termo utilizado, refletirá a ação humana baseada em “bons costumes”. Já Valor, é uma medida que a pessoa dá a cada ação ou sujeito. No caso dos valores humanos, pode-se enumerar verdade, paciência, compreensão, honestidade, paz, entre outros. Tais atributos tornam-se valores quando conferem a uma ação praticada, justiça, solidariedade, igualdade.

Os valores morais, ou conduta moral, é então a prática de ações que são produzidas em nome dos bons costumes e da convivência harmoniosa entre os seres humanos.

Os seres humanos, aliás, são os únicos seres que a ciência da ética considera ao atribuir conduta moral ou não. Nesse sentido, indicam-se animais como seres acabados e humanos como inacabados, na medida em que aos animais não se atribuem decisões, elas já vem determinadas quando nascem. Aos humanos, contudo as decisões são fruto de uma postura a cada ação ao longo da vida. Novamente um exemplo: se um cão morde alguém, ele está se utilizando de um mecanismo de sua natureza acabada, o mecanismo de defesa, já se um homem morde outro, ele está se utilizando de uma escolha que fez em detrimento de outra, ou seja, ele mordeu ao invés de denunciar um agressor a polícia, ou algo assim.

Essas decisões são tomadas considerando a natureza humana e suas crenças. O homem que tem fé em Deus, por exemplo, age conforme essa crença e muito provavelmente não morderá seu agressor em função disso. Se o homem denuncia então seu agressor, esta usando de sua natureza racional, definida nessa condição de nascimento (só homens nascem com razão), onde as decisões devem ser tomadas ao longo da vida.

Se o homem toma suas decisões ao longo da vida e quando ocorrem os acontecimentos, é verdade supor que as decisões serão diferentes entre todos os homens, considerando que cada homem tem uma vida individual e que as intercorrências dessa vida o transformam também individualmente. Ou seja, o homem se constrói individualmente enquanto sua vida vai transcorrendo. A ética, portanto vai considerar como os homens convivem entre si, qual o conjunto de valores morais que precisam compor para estabelecer um equilíbrio entre suas diferenças individuais, desta forma garantindo o convívio coletivo.

Nesse convívio, devemos considerar que o homem vive a partir de duas circunstâncias compostas, a primeira é que tem necessidades e liberdade para supri-las da forma como achar mais adequado, e a segunda, concomitante a primeira, é que precisa, dada a convivência com os outros, estabelecerem limites a potencialidade com a qual tomará sua decisões. As motivações que o farão agir são estabelecidas de forma consciente ou inconsciente. Ou seja, terão resultado voluntário, quando se age com domínio da ação, ou autômato, quando se age em função de algo que já está gravado em sua forma de expressão.

É importante entender duas formas de comportamento do homem, quando toma suas decisões, para que se entenda como se estabelece a ética entre eles. A primeira é a “absolutização”, onde está presente um comportamento humano conhecido como hedonismo, ou seja, a busca humana pelo prazer. Neste caso, o impacto da decisão humana será de autovalorizaçao e submissão de outros à decisão. A segunda, a “relativização”, onde o sujeito age pensando em outros membros de seu grupo de convívio e age a partir das possibilidades que componham menos impacto desfavorável.

Cada decisão tomada gera portanto, conseqüências, e o homem precisa entender que tais efeitos de suas decisões serão sempre de sua responsabilidade. Quando o homem toma suas decisões, preocupado em gerar menos impactos desfavoráveis e compondo mais harmonicamente com seu grupo, ele esta agindo na direção de uma adequada “socialização”, que na verdade é a escolha da forma como ele estabelecerá o convívio no seu grupo, no que diz respeito à aceitação ou não. Uma boa socialização sempre terá como objetivo final o predomínio do bem estar.

O convívio entre os homens, relacionado a seus espaços e comportamentos, são definidos por um complexo conjunto de ações, objetos e regras denominado “Sistema Social”. Para explicar tal sistema, os homens tem se utilizado de uma ciência que procura conhecer as relações entre eles e a partir de seus princípios torná-las harmoniosas. Esta ciência é a Filosofia.

Por filosofia, considerando seus radicais formadores, “filos” e “shofia”, respectivamente amor e saber, podemos entender uma ciência que se dedica ao saber, vontade de saber, sede de saber. Esse saber, no caso, transferido ao entendimento dos saberes fundamentais relacionados ao homem, dentre eles a ética, a moral e o relacionamento harmonioso a partir disso.

O estudo da filosofia portanto tem quatro objetivos prioritários, o primeiro é entender a ciência e suas implicações, o segundo dar condições a alguém de usar o espírito crítico da verdade, o terceiro promover conhecimento para uma perfeita socialização e o quarto, finalmente, é aprender a filosofar, ou seja, ver as coisas sem estar diretamente envolvido nelas, saber analisar de uma posição distante.

A filosofia, no caso do estudo da ética nas organizações, será uma ferramenta que tornará possível os entendimentos da ação humana nos processos administrativos. Tais processos, ao longo do tempo, têm obedecido três correntes ideológicas, a tradicional, a humanista e a situacional. Na tradicional os homens consideram a função administrativa como instrumento dos resultados econômicos, tratando o todo como um sistema mecânico, na busca do lucro. A corrente humanista, procura entender e integrar mais o homem e suas condições, para produzir qualquer ação administrativa, não priorizando especificamente o lucro, contudo não o desconsiderando. Finalmente na situacional, o processo administrativo considera as circunstâncias momentâneas e pontuais do ambiente e da tecnologia pra definir as formas de ação.

As variáveis que interferem nesse processo serão então, o homem, como força de trabalho e entidade comportamental; as organizações, como controladores dos meios de produção; e as variações administrativas para cada categoria de ação a ser praticada. Estas variáveis serão analisadas sob o ponto de vista da função e do fenômeno a partir de duas formas de analise, a objetividade, que define a partir da função e da subjetividade, que considera a essência e o fenômeno a ser analisado.

O administrador, nesse contexto de análise filosófica, é observado a partir de características típicas desse personagem, sendo que as principais a serem consideradas são a liderança, a autoridade, a ética profissional e a postura filosófica. O administrador, segundo o modelo que se entende adequado, deve ser capaz de estabelecer um equilíbrio entre pensar, fazer e agir, aplicando com habilidade a filosofia, o conhecimento científico e a técnica.