Blog do Professor César Renato


Depois de algum tempo inativo, e pela disposição e necessidade de estabelecer novamente um canal de comunicação com meus interlocutores externos, este blog volta ao ar.
Nele pretendo, dentro do possível, semanalmente discorrer sobre algumas questões que julgo importantes e que percorrem minhas comunidades em alguma medida, tanto no micro-espaço que me situo, quanto no macro-espaço social onde estamos todos.
Quem pretendo alcançar são aqueles que estou mais perto, como família, especialmente meus filhos, amigos, alunos e colegas em geral. Minhas colocações buscam alcançar meu ponto de vista sobre temas que acredito serem pertinentes a discussão.

segunda-feira, junho 23, 2014

A força da Copa do Mundo sobre as manifestações populares no Brasil – Como as estruturas econômicas e o Estado servil a elas, emudece os movimentos populares.#abafaocaso

Em junho de 2013, a partir de um movimento social que lutava pelo passe livre ao transporte coletivo pelos estudantes, na cidade de São Paulo, emergiu no Brasil um dos maiores movimentos populares visto em toda a história do país.
As vésperas da Copa da Confederações, evento da Fifa que antecede (um ano antes) a Copa do mundo de futebol, a população brasileira, de forma uníssona, grandiosa, poderosa, e absolutamente consciente de todos os problemas políticos, estruturais, econômicos e sociais que o país vivia, se manifestou em massa contra esse estado de coisas, mostrando definitivamente a insatisfação que imperava na sociedade!
Vocês lembram disso? Você esteve nas ruas? Se enfileirou, mesmo que de casa, aos milhares de manifestantes em quase todos os municípios brasileiros? Se você lembra, se você participou, se você se posicionou a favor, sob meu ponto de vista, lamento dizer-lhe, você foi vítima, como eu fui, como todos fomos, do maior engodo social jamais visto na história brasileira, talvez até na história mundial. Mas porque aconteceu isso? Porque acho que isso foi uma enganação? Porque naquele momento não houve de fato um movimento popular?
Primeiro, quero me posicionar com relação aos acontecimentos da época.
Alguns grupos, ligados a movimentos sociais históricos do Brasil, em busca de chamar atenção às suas reinvindicações marcaram, pela internet, manifestações conjuntas com o MPL (Movimento pelo Passe Livre na cidade se São Paulo), e foram para as ruas. Movidos por um contraditório sentimento de insatisfação, a grande maioria da população brasileira, somente daqueles que se abrigam ou querem se abrigar na classe média, resolveu acompanhar tais movimentos, para também protestar. Havia na época uma forte pressão contra midiática, apontada para o governo constituído a nível federal, contra as instituições políticas e afetada por constantes escândalos financeiros e políticos, que indignavam qualquer cidadão.
Esse cidadão, especialmente marcado pelo padrão estereotipado de classe média, olhou pela janela de seu castelo de individualismo egoísta, elitizado e preconceituoso e, não se sabe por que razões (ainda hoje não se descobriu a pauta de reivindicação de qualquer uma das manifestações), resolveu ir as ruas. Lá nas manifestações, insuflado por um patriotismo míope, por grupos de interesses contrários ao “status quo”, e por uma formação política estéril e imaginária, gritou por um país melhor, com um governo melhor, por uma vida melhor. Tudo uma grande mentira!
Essa mentira se consolidou em menos de quarenta e cinco dias, quando essa grande massa retornou para suas casas, e voltou a preocupar-se com seus celulares, com seus grupos sociais na rede de computadores, e com o sonho interminável de “subir na vida”, a qualquer preço, sobre quaisquer condições, independente do que acontecia com o concidadão ao seu lado, independente de tudo, somente em função dele mesmo e de seus grupos sociais fechados, elitizados e preconceituosos.
Com o inicio da Copa das Confederações, a indústria de comunicação de massas, a qual já me referi aqui algumas vezes, a partir de poderosas redes de televisão constituídas no país, tratou de acalmar as massas, insuflou novos sentimentos na população em geral, ligados ao patriotismo, a vitória do escrete canarinho e a necessidade que tínhamos de mostrar uma imagem de pacifismo que caracteriza o povo brasileiro. As manifestações todas, de forma definitiva, foram abafadas, aniquiladas e agora no Brasil, só se manifestam os mesmos grupos sociais que já se manifestavam no país, há muito tempo, advindas de um processo histórico de resistência.
Pois bem. Com a Copa do Mundo no Brasil, com a aproximação do evento, desta vez, o estado político e econômico que constitui o poder nacional, tratou de cortar o mal pela raiz.
Desde o fim da Copa das Confederações, no ano passado, uma estrutura que associa governos, organizações econômicas, políticos e polícia, tratou de blindar todo e qualquer embrião que pudesse identificar uma manifestação popular significativa. O que temos no Brasil hoje, durante a Copa do Mundo da Fifa, são resíduos de movimentos populares, constituídos de jovens que acreditam na transformação social, mas não entendem bem como isso pode se dar, fora do mundo idealizado em que eles vivem.
Nesse momento, por uma questão de posicionamento pessoal, quero refletir sobre manifestações populares. O que são? O que provocam? O que está certo e o que está errado nelas? Tudo a partir do meu ponto de vista, e procurando esclarecer, porque minha posição sobre elas reforça minha decisão de NÃO assistir os jogos do Brasil durante a Copa do Mundo da Fifa!
Nesse sentido, quero esclarecer que manifestação popular é uma ação humana, individual ou coletiva, na defesa de um ponto de vista ou situação, ou contra um estado de coisas constituído, ao qual os manifestantes se posicionam desfavoráveis. As manifestações são portanto atos revolucionários, que se opõem de forma contrária as forma de como as coisas evoluem. Estas revoluções, são descritas por fatos, a partir de muitas revoluções, que já houveram na história do mundo, na sua grande maioria manifestas por atos e episódios que ao nosso ver imediato, podem ser consideradas ações de violência, barbárie, vandalismo!
Quem já ouviu falar atualmente que os manifestantes praticaram violência ou vandalismo? Quem já pode se manifestar contra o que está acontecendo nas ruas, promovidas pelo movimento #nãovaitercopa, em função da informação das barbáries que essas pessoas estão cometendo?
Será mesmo?
Em algum momento, você ouviu falar que a polícia vai ser inquirida sobre seus atos de repressão contra manifestantes, que estavam comprovadamente em comportamento pacífico, enquanto se manifestavam? Você por acaso imagina que leis estão sendo constituídas, com o único objetivo de tolher manifestações populares, ou pela burocracia de Estado, ou pela institucionalização da força contra os manifestantes?
Pessoalmente não sou favorável a violência do homem contra o homem! sou contra a guerra, sou contra os atentados a vida. Mas o que se esperar de manifestantes contra órgãos públicos que reprimem, contra organizações econômicas que tem uma interminável história de exploração para o lucro? Como a Fifa por exemplo! Como as organizações econômicas que patrocinam a Copa do Mundo do Brasil! Como o Estado e suas instituições!
De verdade? Você é favorável as formas como a Copa do Mundo foi encaminhada no Brasil? Como se usou o dinheiro público? Como os políticos tem usado o discurso a favor e contra a Copa pra se prevalecerem disso em suas campanhas políticas? De omissões contra a saúde, a educação, a segurança pública, a infraestrutura urbana, a vida em sociedade em geral, de forma justa e igualitária? Claro que você não é favorável a tudo isso, eu tenho certeza disso! Mas então, porque não está se manifestando junto com os jovens sonhadores dos movimentos sociais militantes?

Na minha forma de pensar, e repito, essa é a minha forma de pensar, a maioria dos brasileiros não está se manifestando porque não pode, não tem condições para isso, não tem força para entender tudo o que está acontecendo. Somos definitivamente cúmplices a essa condição socioeconômica que nos impõe, somos cativos ao mundo do trabalho e do consumo, e deles não temos condições racionais nem emocionais de nos livrarmos, porque sem nenhuma redução nos termos, somos prisioneiros sequestrados pela condição nos assola todos os dias em nossas vidas, tanto o Estado que nos reprime, como as organizações econômicas que nos aliena, pelo trabalho e pelo consumo a que estamos todos sujeitos de forma irreversível e impiedosa! E da qual esses pobres coitados jovens manifestantes, querem nos livrar!

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