Em junho de
2013, a partir de um movimento social que lutava pelo passe livre ao transporte
coletivo pelos estudantes, na cidade de São Paulo, emergiu no Brasil um dos
maiores movimentos populares visto em toda a história do país.
As vésperas
da Copa da Confederações, evento da Fifa que antecede (um ano antes) a Copa do
mundo de futebol, a população brasileira, de forma uníssona, grandiosa,
poderosa, e absolutamente consciente de todos os problemas políticos,
estruturais, econômicos e sociais que o país vivia, se manifestou em massa
contra esse estado de coisas, mostrando definitivamente a insatisfação que
imperava na sociedade!
Vocês
lembram disso? Você esteve nas ruas? Se enfileirou, mesmo que de casa, aos
milhares de manifestantes em quase todos os municípios brasileiros? Se você
lembra, se você participou, se você se posicionou a favor, sob meu ponto de
vista, lamento dizer-lhe, você foi vítima, como eu fui, como todos fomos, do
maior engodo social jamais visto na história brasileira, talvez até na história
mundial. Mas porque aconteceu isso? Porque acho que isso foi uma enganação?
Porque naquele momento não houve de fato um movimento popular?
Primeiro,
quero me posicionar com relação aos acontecimentos da época.
Alguns
grupos, ligados a movimentos sociais históricos do Brasil, em busca de chamar
atenção às suas reinvindicações marcaram, pela internet, manifestações
conjuntas com o MPL (Movimento pelo Passe Livre na cidade se São Paulo), e
foram para as ruas. Movidos por um contraditório sentimento de insatisfação, a
grande maioria da população brasileira, somente daqueles que se abrigam ou
querem se abrigar na classe média, resolveu acompanhar tais movimentos, para
também protestar. Havia na época uma forte pressão contra midiática, apontada
para o governo constituído a nível federal, contra as instituições políticas e
afetada por constantes escândalos financeiros e políticos, que indignavam
qualquer cidadão.
Esse
cidadão, especialmente marcado pelo padrão estereotipado de classe média, olhou
pela janela de seu castelo de individualismo egoísta, elitizado e
preconceituoso e, não se sabe por que razões (ainda hoje não se descobriu a
pauta de reivindicação de qualquer uma das manifestações), resolveu ir as ruas.
Lá nas manifestações, insuflado por um patriotismo míope, por grupos de
interesses contrários ao “status quo”, e por uma formação política estéril e
imaginária, gritou por um país melhor, com um governo melhor, por uma vida
melhor. Tudo uma grande mentira!
Essa
mentira se consolidou em menos de quarenta e cinco dias, quando essa grande
massa retornou para suas casas, e voltou a preocupar-se com seus celulares, com
seus grupos sociais na rede de computadores, e com o sonho interminável de
“subir na vida”, a qualquer preço, sobre quaisquer condições, independente do
que acontecia com o concidadão ao seu lado, independente de tudo, somente em
função dele mesmo e de seus grupos sociais fechados, elitizados e preconceituosos.
Com o
inicio da Copa das Confederações, a indústria de comunicação de massas, a qual
já me referi aqui algumas vezes, a partir de poderosas redes de televisão
constituídas no país, tratou de acalmar as massas, insuflou novos sentimentos
na população em geral, ligados ao patriotismo, a vitória do escrete canarinho e
a necessidade que tínhamos de mostrar uma imagem de pacifismo que caracteriza o
povo brasileiro. As manifestações todas, de forma definitiva, foram abafadas,
aniquiladas e agora no Brasil, só se manifestam os mesmos grupos sociais que já
se manifestavam no país, há muito tempo, advindas de um processo histórico de
resistência.
Pois bem.
Com a Copa do Mundo no Brasil, com a aproximação do evento, desta vez, o estado
político e econômico que constitui o poder nacional, tratou de cortar o mal
pela raiz.
Desde o fim
da Copa das Confederações, no ano passado, uma estrutura que associa governos,
organizações econômicas, políticos e polícia, tratou de blindar todo e qualquer
embrião que pudesse identificar uma manifestação popular significativa. O que
temos no Brasil hoje, durante a Copa do Mundo da Fifa, são resíduos de
movimentos populares, constituídos de jovens que acreditam na transformação
social, mas não entendem bem como isso pode se dar, fora do mundo idealizado em
que eles vivem.
Nesse
momento, por uma questão de posicionamento pessoal, quero refletir sobre
manifestações populares. O que são? O que provocam? O que está certo e o que
está errado nelas? Tudo a partir do meu ponto de vista, e procurando
esclarecer, porque minha posição sobre elas reforça minha decisão de NÃO
assistir os jogos do Brasil durante a Copa do Mundo da Fifa!
Nesse
sentido, quero esclarecer que manifestação popular é uma ação humana,
individual ou coletiva, na defesa de um ponto de vista ou situação, ou contra
um estado de coisas constituído, ao qual os manifestantes se posicionam
desfavoráveis. As manifestações são portanto atos revolucionários, que se opõem
de forma contrária as forma de como as coisas evoluem. Estas revoluções, são
descritas por fatos, a partir de muitas revoluções, que já houveram na história
do mundo, na sua grande maioria manifestas por atos e episódios que ao nosso
ver imediato, podem ser consideradas ações de violência, barbárie, vandalismo!
Quem já
ouviu falar atualmente que os manifestantes praticaram violência ou vandalismo?
Quem já pode se manifestar contra o que está acontecendo nas ruas, promovidas
pelo movimento #nãovaitercopa, em função da informação das barbáries que essas
pessoas estão cometendo?
Será mesmo?
Em algum
momento, você ouviu falar que a polícia vai ser inquirida sobre seus atos de
repressão contra manifestantes, que estavam comprovadamente em comportamento
pacífico, enquanto se manifestavam? Você por acaso imagina que leis estão sendo
constituídas, com o único objetivo de tolher manifestações populares, ou pela
burocracia de Estado, ou pela institucionalização da força contra os
manifestantes?
Pessoalmente
não sou favorável a violência do homem contra o homem! sou contra a guerra, sou
contra os atentados a vida. Mas o que se esperar de manifestantes contra órgãos
públicos que reprimem, contra organizações econômicas que tem uma interminável história
de exploração para o lucro? Como a Fifa por exemplo! Como as organizações
econômicas que patrocinam a Copa do Mundo do Brasil! Como o Estado e suas
instituições!
De verdade?
Você é favorável as formas como a Copa do Mundo foi encaminhada no Brasil? Como
se usou o dinheiro público? Como os políticos tem usado o discurso a favor e
contra a Copa pra se prevalecerem disso em suas campanhas políticas? De
omissões contra a saúde, a educação, a segurança pública, a infraestrutura
urbana, a vida em sociedade em geral, de forma justa e igualitária? Claro que
você não é favorável a tudo isso, eu tenho certeza disso! Mas então, porque não
está se manifestando junto com os jovens sonhadores dos movimentos sociais
militantes?
Na minha
forma de pensar, e repito, essa é a minha forma de pensar, a maioria dos
brasileiros não está se manifestando porque não pode, não tem condições para
isso, não tem força para entender tudo o que está acontecendo. Somos
definitivamente cúmplices a essa condição socioeconômica que nos impõe, somos
cativos ao mundo do trabalho e do consumo, e deles não temos condições
racionais nem emocionais de nos livrarmos, porque sem nenhuma redução nos
termos, somos prisioneiros sequestrados pela condição nos assola todos os dias
em nossas vidas, tanto o Estado que nos reprime, como as organizações
econômicas que nos aliena, pelo trabalho e pelo consumo a que estamos todos
sujeitos de forma irreversível e impiedosa! E da qual esses pobres coitados
jovens manifestantes, querem nos livrar!
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