Eis que
Copa da Fifa continua, eis que mais uma vez estou aqui pra refletir com cada um
dos que me leem. Mas antes quero contar-lhes algo que me aconteceu hoje, pela
manhã, no supermercado. Creio que depois de lerem meu texto conseguirão
entender um pouco mais, porque isso aconteceu!
Eu comprava
limão, na “feira” do supermercado. Escolhia entre os que mais brilhavam (assim
me ensinou meu pai, quando ainda era pequeno). Esse é um aprendizado que me foi
dado pela tradição. Uma cultura popular que tanto defendo em meus textos. De
repente, não mais que de repente, uma mulher ao lado me chama. Ela parecia
escolher bananas, e me pergunta – Moço vocês vão colocar mais bananas aqui?
Certamente pensou que eu era funcionário do supermercado, muito embora
estivesse com uma camisa de time de futebol, bermuda e alpargatas(veja, eu com
uma camisa de time de futebol lá, e agora aqui, sem assistir a Copa da Fifa!!!
Mas já expliquei isso.) Antes que eu dissesse a ela que não trabalhava ali, ela
mesmo disse-me – Opa, desculpe, pensei que fosse alguém do mercado. Antes ainda que
eu respondesse, ela virou-se para uma moça, que certamente era funcionária,
porque vestia-se com uniforme, e esbravejou a ela – Heiii, não vão repor
bananas ali não!!!! (Isso mesmo, de modo grotesco e imperativo) Meu filho, que
estava comigo chegou a sair de perto, indignado com a forma como tratou a
menina. Mas esse não é o núcleo da história que quero contar, o mais bestial, a
maior aberração, o ridículo vem agora. Depois que a moça respondeu-lhe, a tal
mulher virou pra mim e falou-me: Desculpa moço, não é que você tenha cara de "pobre", é que me enganei mesmo!!!!! Tem ideia do que há na cabeça de um ser desses?
Minimamente, ela, vestida com roufenhas da moda, e fazendo compras no mercado é, na opinião dela, “rica” e o trabalhador do mercado, quem quer que seja ele, é o “pobre”. Não
acha isso sinistro? não te dá ânsia? Em mim deu. Olhei pra ela e só pude
expressar uma reação. Ri, gargalhei, tive pena e fui embora! Queria sair de
perto deste ser!
Guarde essa
historinha. No final do texto quero que a use para refletir comigo!
O Argumento
que quero dividir neste texto hoje é o seguinte: Quem ganha com um evento como
a Copa da Fifa? Quem perde? Para isso pretendo estabelecer três perspectivas. O
ganho econômico, o ganho político, e o ganho social. E dividir em cada uma
delas, organizações produtivas, políticos e a sociedade em geral.
Tenho
caracterizado desde o início dessas reflexões sobre a Copa da Fifa, a Fifa como
uma organização econômica. Na escolha socioeconômica que fizemos na
modernidade, o “ganho” econômico, sobrepõe e praticamente elimina, todo e
qualquer outro ganho. As organizações econômicas vivem pelo lucro, que chamei
de ganho, e pela acumulação de capital. De modo direto e objetivo,
exclusivamente para isso!
Para ganhar
dessa forma a organização econômica tem necessariamente que agir a partir de duas premissas
fundamentais, que tratam (1) da exploração dos meios de produção de forma
racional e burocrática, evitando qualquer tipo de majoração de custos
financeiros; e (2) da garantia do consumo intensivo de tudo que produzem
massivamente, pois quanto maior a produção, maior a venda, maior o ganho.
Nesse caso,
os meios de produção podem ser divididos em três grandes grupos, quais sejam, a
propriedade privada de locais, instalações e equipamentos; o capital investido
para a produção; e a força de trabalho humana, necessária para o manuseio da
maquinaria e do capital.
Quanto a
propriedade privada, há séculos um grupo seleto e diminuto de pessoas tem se
apropriado dela, pois são eles que investem na produção. O trabalhador comum
não tem recursos para tal investimento e o Estado cria leis e institucionaliza
a defesa dos que detém a mesma, assim como há uma burocracia que domina as
ações humanas individuais, alijando como já disse a maioria da sociedade. Você
pode me dizer que os trabalhadores ganham salários, e isso lhes garante o ganho
econômico, mas isso não acontece, porque a eles só é distribuído o custo de sua
mão de obra, relativo a venda de sua força de trabalho. O excedente de
capital oriundo da venda dos produtos, é acumulado pelos investidores, para que
os mesmos reinvistam na produção e mantenham para si mesmos grande parte dos
resultados financeiros.
Como esse
ganho econômico das organizações se reproduz? Primeiro com a instituição de uma
racionalidade utilitária, que calcula as consequências de lucro a partir da
redução de custos para obtenção de dos meios de produção, por isso que os
salários não contém os lucros, e também pela produção intensiva e sempre
crescente de produtos oferecidos ao mercado. Por isso que há alguns anos atrás
falávamos com os outros pelo uso de um telefone fixo, hoje os temos ainda,
contudo com mais alternativas para o mesmo fim, como celulares, smartphones,
tablets, computadores, radiocomunicadores, canais de voz virtuais, etecetera.
Essa proliferação de produtos para um mesmo fim, é o que chamei de intensiva e
crescente oferta de produtos.
Além disso,
esse ganho infinitamente crescente, se reproduz na massificação do consumo dos
produtos. Esse efeito é produzido por uma indústria de comunicação de massa,
que desenvolve através das mídias existentes, tais como, rádio, televisão,
internet, entre muitas outras, mecanismos de convencimento das pessoas ao
consumo. Um consumo cada vez maior, cada vez mais desenfreado, verdadeiramente
enlouquecido. Quer um exemplo disso? Você usa uma calça para se vestir, como
deve se vestir todos os dias, deveria ter pelo menos umas três calças certo?
Pois bem, vá lá no seu armário e conte quantas calças tens. Se contou mais de
três, isso se chama “consumo desenfreado”. Essas mídias que descrevi é que
produziram esse efeito em você, em mim, em todos nós!
A Copa da
Fifa tem exposto essa indústria de forma muito latente. Propagandas, garotos
propaganda, sugestões de status, prazeres descritos ao consumir, são somente
algumas das peripécias que nos fazem acreditar que para vivermos devemos
consumir, depois consumir, e ainda consumir ... pra sempre e sempre consumir!
Quanto você como trabalhador está ganhando efetivamente do produto de venda
desse consumo? Quanto você acha que a costureira que alinhava as camisetas dos
times que jogam na Copa da Fifa, levam desse ganho econômico? Reflita você sobre
isso!
Outro ganho
muito significativo é o ganho político. Esse ganho pode ser expresso pelo poder
e dinheiro que políticos, profissionais ou não, obtém dos resultados das
organizações econômicas. Vale lembrar aqui, que a política e a ação
desenvolvida para cuidar dos cidadãos, nas cidades, nas comunidades, na
sociedade em geral, enfim a política surgiu para cuidar de nossa vida, de
nossas casas, enquanto nós desenvolvemos outras atividades vitais, que no caso
é o trabalho, na sociedade que escolhemos viver.
Os
políticos, com um evento como a Copa da Fifa, buscam promovê-lo nas comunidades
em que tem ação. Com o sucesso de tal evento, ganham prestígio, ganham
visibilidade, ganham votos, logo se mantém políticos, logo perpetuam-se no
poder e dessa forma, no dito popular, podem se manter agarrados com força, nas
“tetas do governo”! Sempre muito leitosas, sempre muito apetitosas!
Mas veja
bem, não só o sucesso desses eventos produz ganhos. O insucesso deles também,
porque dai, grupos contrários aos políticos eleitos, se aproveitam para tomar o
seu lugar, criticando-os e responsabilizando-os pelo fracasso.
Sobre isso,
podemos ver como os políticos nacionais estão se comportando quanto ao “legado
da Copa da Fifa”. Obras foram prometidas e realizadas para as cidades, para o
estado, para a nação, em função de estabelecer infraestrutura para receber a
Copa da Fifa, estão sendo propagadas a quatro ventos, tais como os estádios, os
aeroportos, os hotéis, as vias e aparelhos de mobilidade, etecetera. Políticos
em todos os níveis tem ido a mídia e dito – Nós fizemos, nos construímos, nos
viabilizamos, nós somos os “tais”. Em contrapartida as obras prometidas e não
concluídas, ou sequer não iniciadas, são instrumentos para que outros
políticos, de oposição aos que estão no poder, possam sair exaltando país a
fora – Não fizeram, Não viabilizaram, desviaram verbas, enganaram a sociedade.
Você consegue, vendo TV ou escutando rádio, identificar esses dois “tipos” de
políticos? Pois então, eles existem as pencas! Eles existem aos borbotões. Com
discursos tão hipócritas, que nos dá a impressão que não convencem nem a sim
mesmos. A noticia ruim é que convencem! Não só a eles, mas a grande maioria de
nós, que votamos em um ou em outro, e os mantemos no poder, em todos os níveis,
garantindo a infinidade de seus ganhos. Percebe agora o que chamo de ganhos
políticos? Mas porque votamos? É mais uma vez trabalho da indústria de
comunicação de massas, que nos ilude, nos aliena, nos cega!
Mas espere,
ganhos econômicos e políticos não são legítimos? Investidores e políticos não
merecem se apropriar desses ganhos, se trabalham para isso, se desenvolvem seus
papéis nessa estratégia de crescimento da sociedade? Minha opinião é que NÃO
merecem! Minha opinião é que se apropriam do ganho de forma suja, ilícita,
inescrupulosa. Minha opinião é que não ganham nada e sim ROUBAM tais ganhos!
Exploram a grande maioria dos cidadãos envolvidos!!!!
Porque acho
isso? Para isso preciso falar da terceira perspectiva de ganhos. Os ganhos da
sociedade.
Você concorda
que sociedade é o conjunto de todos os cidadãos? Dentre eles os investidores,
os políticos, mas também o cidadão comum, fora das duas categorias iniciais, o
trabalhador, o estudante, a dona de casa, os “alijados”!
(Cara!!!!
To quase chorando de emoção aqui. Ao escrever isso olhei de lado e vi uma foto
que tenho de meus três filhos, cidadãos dessa sociedade que falei, lembrei dos
meus alunos, também cidadãos. Não chorei porque não tenho a capacidade de
chorar fácil, como tem por exemplo os jogadores da seleção de nosso país. Acha
que to sendo cínico né? Pois é, estou sendo mesmo)
Para falar
dos ganhos da sociedade quero que façam um exercício. Vejam um “vídeo-tape” de
uma partida dessas da Copa da Fifa. Veja se você consegue encontrar lá alguém
que trabalha em supermercado, repondo produtos nas prateleiras, veja se vê
alguém que consiga identificar como “pobre”, como falou a senhora que me
encontrou no supermercado. Veja se lá há negros, mendigos, descamisados! Você
não vai encontrar. Pode encontrar “Musas da Copa”, padrões de beleza impostos
pela indústria de comunicação de massas, pode encontrar jovens e adultos,
manuseando smartphones, postando felizes os resultados das partidas.
Na verdade,
a sociedade em geral não ganha NADA com a Copa da Fifa, você não ganha, eu não
ganho, ninguém que trabalha e estuda feito louco para sobreviver ganha! Há
infinitas comprovações disso. Eu as vejo. Você a vê? Se não as vê, sorte sua,
não sofrerá como eu e os “estranhados” ao sistema sofrem! Mas infelizmente,
isso se converte também em azar. Azar de toda a sociedade. Por isso, me
manifesto. NÃO assistindo os jogos da Seleção Brasileira na Copa da Fifa. É o
que posso fazer nesse momento, é o que deixa tranquilo. É o que posso
transferir para os meus!
(Se você encontra a senhora do mercado algum
dia, espero que não pense como ela!)
Nenhum comentário:
Postar um comentário