Blog do Professor César Renato


Depois de algum tempo inativo, e pela disposição e necessidade de estabelecer novamente um canal de comunicação com meus interlocutores externos, este blog volta ao ar.
Nele pretendo, dentro do possível, semanalmente discorrer sobre algumas questões que julgo importantes e que percorrem minhas comunidades em alguma medida, tanto no micro-espaço que me situo, quanto no macro-espaço social onde estamos todos.
Quem pretendo alcançar são aqueles que estou mais perto, como família, especialmente meus filhos, amigos, alunos e colegas em geral. Minhas colocações buscam alcançar meu ponto de vista sobre temas que acredito serem pertinentes a discussão.

terça-feira, julho 08, 2014

Da vida em sociedade à vida em função das organizações econômicas – A grande transformação da modernidade. #fifaloboemaquina

Desde a origem da vida humana, ha milhões de anos atrás, há uma constatação com a qual todos nós devemos conviver. O Homem não é um ser só. A vida acontece de forma coletiva. Mesmo que constituído de forma individual, a integração com outros indivíduos é absolutamente inescapável. Esse dilema absolutamente sem solução teve que, ao longo do tempo, construir mediações possíveis. Dessa forma o homem estabeleceu relações entre si, cujas determinações buscavam permitir que cada sujeito, mesmo com seu próprio estado de natureza, pudesse conviver com outros, em uma relação que permitia a convivência pacífica e detinha um estado constante de guerra de um contra todos e de todos contra um. Alguns teóricos defendem essa relação a partir de um comprometimento que chamam de “contrato social”. Sem discutir sua validade teórica, nem estabelecer contraponto com outras teorias, quero iniciar essa reflexão incorporando três personagens nessa relação interativa, a partir de uma perspectiva conduzida por esse conceito: o indivíduo, o governo e as organizações, que originalmente tratarei como organizações produtivas.
Pois bem, a sociedade é composta por indivíduos. Esses para estabelecer uma relação de paz, constituem indivíduos em particular, que compõe o governo, que tem a incumbência de manter a sociedade em convivência pacífica, responsabilizados por sua integração, e ordenando o atendimento de suas necessidades. Tais necessidades sociais são organizadas fundamentalmente pela produção, o que infere no contexto ainda um terceiro indivíduo, as organizações de produção. Essa tríade de sujeitos em sociedade, apresentados de forma bastante analítica, descrevem comportamentos sociais que caracterizam todo grupo, de forma coletiva ou individual. Assim os homens se reproduzem, se asseguram dos perigos, suprem sua existência, garantem sua alimentação, seu trabalho natural, se divertem, se associam às crenças pessoais ou coletivas, constroem sua história e sua cultura.
Deste contexto, minha reflexão agora quer extrair a produção, ou seja, o homem para suprir às nuances de sua vida em sociedade, descreve uma ação social fundamental: a produção.
Para que o convívio social seja possível, as necessidades humanas devem  ser supridas de alguma forma e por isso surgem nos meios sociais os modos de produção. As Organizações produtivas, como chamo nessa reflexão, são então as formas estruturais que garantem a produção.
No início da vida em sociedade, tais organizações eram estruturadas de forma primitiva, com uma relação de gênero minimamente determinante, enquanto homens se afastavam das tribos para atividades de caça e pesca, as mulheres se mantinham nelas, cuidando e protegendo as crias (filhos), elaborando outras atividades produtivas instaladas na própria tribo (dizem que essa foi a origem da agricultura). Com a evolução da espécie, as tribos começaram a propagar-se, inclusive interagindo com outras tribos, originando relações de troca, constituídas a seguir pela atividade do comércio. Outras organizações, ligadas ao governo ainda se fundavam, mas especialmente para garantir segurança e organização dos aglomerados que se formavam, especialmente com a fixação do homem a terras de modo definitivo.
A evolução dessa vida em sociedade, na antiguidade estabeleceu outras organizações elaboradas de forma mais complexa, contudo ainda como organizações produtivas.
Essa forma de exercício do modo de produção, atravessa a antiguidade e se consolida na idade média, caracterizando uma involução dada pela constituição de feudos, onde comunidades viveram mais segmentadas em grupos sociais, regidos por senhores feudais, nomeados por um governo de soberanos, que se caracterizava pelo autoritarismo. A  orientação cultural e a espiritualidade tinha uma contribuição determinante imposta pela influência de uma igreja forte, que dominava e subjugava os serem sociais, a partir da de uma doutrina opressora e incisiva. Esse modelo impunha uma vida em sociedade mais reclusa, mas notadamente protetiva de incessantes perigos invasivos, provocados por guerras constantes e a instituição da barbárie.
Esses perigos à sociedade passam a ser combatidos pelo amadurecimento do poder central, autoritário e soberano, que mantinha o modo de produção baseado na manufatura artesanal e na agricultura, onde as organizações cresciam em complexidade, mas se mantinham eminentemente produtivas. Contudo, com a maior liberalização da sociedade, ideias iluministas se expandem na busca de uma ampliação da liberdade entre os sujeitos. Alguns especificamente, protegidos por privilégios do governo, pela instituição  de leis voltadas para seus interesses e por sua iniciativa mercantil, se destacam em relação a grande maioria, e tomam a frente das organizações produtivas, culminando com a origem de uma classe social distinta, no período originário chamado idade moderna.
Esses privilégios distintivos, fizeram com que essa classe social, diferenciada e dominante, provocasse uma extraordinária revolução cultural na sociedade. Sua força de influenciar o governo (muitas vezes de conduzir o governo) e de possuir os meios de produção para si, os dotaram de uma capacidade de domínio das organizações produtivas, que sob seu comando exclusivo, transformaram-se em organizações interessadas não mais em atendimento das necessidades sociais, prioritariamente, e sim em um outro tipo, voltadas para acúmulo de capital. Esse marco social determinou a inversão do modo de produção, antes artesanal e agrícola, para outro interessado no capital e nominado modo de produção industrial. Desta inversão cultural gigantesca surgem o que chamo aqui de organizações econômicas.
Tais organizações econômicas então, são aquelas que atendem as necessidades da sociedade em geral, mas não interessadas no uso de cada produto e sim na troca por capital, oferecendo a seus mandatários acúmulo constante e intensivo das riquezas sociais e cada vez mais, tornando-os uma classe distinta e privilegiada.
A organização econômica, nesses moldes capitalistas e industriais, que quero discutir nesse momento é a que implantou, estabelece e conduz o que vivemos na atualidade - A Copa do Mundo da Fifa no Brasil – A organização econômica chamada Fifa.
Isso mesmo, esta organização econômica, muito embora não tenha no escopo de seu produto principal um bem de manufatura, cresce vertiginosamente na produção do serviço do futebol. Se apropria dessa cultura popular centenária exclusivamente para beneficiar uma classe privilegiada e acumular cada vez mais capital em torno de suas estruturas econômicas.
Exatamente como as organizações econômicas originarias do inicio da idade moderna, a Fifa conduz suas ações a partir de ações determinantes na caracterização do conceito dessa forma organizacional. Acumula capital, se utiliza dos artifícios orientados pelo mercado e promove ações baseadas em eficiência produtiva e burocrática, transformando-se cada vez mais em uma organização gigantesca, inatacável e indestrutível, mas também elitista e discriminante.
No caso das copas do mundo, temos isso muito claro. Desde sempre esse evento é orientado pela ditadura de gestão imposta pela Fifa, subjugando governos, outras organizações complementares e a sociedade de modo geral. O Padrão Fifa, padroniza tal força elitista e dominadora, estabelecendo estereótipos em torno de seu eventos, que produzem condições de poder e controle absolutos de todos os outros envolvidos.
De modo prático e direto, podemos citar algumas ações em torno da organização de uma copa do mundo que confirma essa imposição da organização econômica Fifa. Os governos do país sede, em todos os níveis, municipal, estadual e federal, tem que criar condições apropriadas para a manutenção do poder e do privilégio da Fifa. Leis são criadas, organizações são reorientadas, investimentos públicos e privados são empenhados, tudo em função da organização econômica dirigente, a superpoderosa Fifa.
Os seus dirigentes, são protegidos em suas ações, sejam elas corruptas, criminosas, elitistas ou discriminatórias, não importa! Há uma blindagem estabelecida pelo contexto socioeconômico, garantida por governos, em leis e estruturas institucionais; outras organizações complementares, que com sua ação ganham economicamente na distribuição de seus produtos e serviços; e pasmem, pela sociedade em geral, que hipnotizada pela onda sedutora da indústria de comunicação de massa, garantem sua ação pervertida, pela associação emocional que assumem nos eventos ligados a copa o mundo, e especialmente, nesse evento maior.
Veja por exemplo, no que se refere a associação dos sujeitos da sociedade em geral, como a dominação é algo subliminar. Os voluntários da Fifa, sujeitos que garantem a possibilidade de ocorrência da grande maioria de eventos e estruturas da copa do mundo, trabalham sem ganhar nenhum tostão, são submetidos a ordens que reprimem seus movimentos, são excluídos do evento em sua característica de entretenimento, e mesmo assim, surgem com uma satisfação eufórica e compensatória de suas possíveis “perdas”. Não se dão conta que a Fifa economiza milhões de dólares em expensas, a partir de sua voluntariedade. Se contentam com um lanche, a aproximação dos astros (também agentes sociais explorados) e uma possível experiência para trabalhar no futuro em uma organização econômica. Saem felizes para a vida toda!
As ações de exploração e expropriação, destaca privilégios a sujeitos e organizações em dimensão secular. Os dirigentes são representantes de uma elite cada vez mais reduzida. Os dirigentes se mantem na Fifa por décadas, como no caso de seu atual presidente e do presidente anterior, que por acaso é um brasileiro, intocáveis em suas ações.
Centenas de organizações complementares orbitam em torno dessa organização econômica, sustentadas a base de privilégios, propinas e cooptação por pressão e dominação burocrática, sem sair desse entremeado circulo vicioso, ou por medo que a organização central as destrua, ou por usufruir privilégios paralelos que os mantém também corruptos e dominadores.
Assim, acredito que minha reflexão posta, possa identificar porque de minha manifestação de protesto. NÃO assistindo os jogos da seleção brasileira na copa do mundo, dessa organização nociva e inescrupulosa, a Fifa!

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