Desde a
origem da vida humana, ha milhões de anos atrás, há uma constatação com a qual
todos nós devemos conviver. O Homem não é um ser só. A vida acontece de forma
coletiva. Mesmo que constituído de forma individual, a integração com outros
indivíduos é absolutamente inescapável. Esse dilema absolutamente sem solução
teve que, ao longo do tempo, construir mediações possíveis. Dessa forma o homem
estabeleceu relações entre si, cujas determinações buscavam permitir que cada
sujeito, mesmo com seu próprio estado de natureza, pudesse conviver com outros,
em uma relação que permitia a convivência pacífica e detinha um estado
constante de guerra de um contra todos e de todos contra um. Alguns teóricos
defendem essa relação a partir de um comprometimento que chamam de “contrato
social”. Sem discutir sua validade teórica, nem estabelecer contraponto com
outras teorias, quero iniciar essa reflexão incorporando três personagens nessa
relação interativa, a partir de uma perspectiva conduzida por esse conceito: o
indivíduo, o governo e as organizações, que originalmente tratarei como
organizações produtivas.
Pois bem, a
sociedade é composta por indivíduos. Esses para estabelecer uma relação de paz,
constituem indivíduos em particular, que compõe o governo, que tem a
incumbência de manter a sociedade em convivência pacífica, responsabilizados
por sua integração, e ordenando o atendimento de suas necessidades. Tais
necessidades sociais são organizadas fundamentalmente pela produção, o que
infere no contexto ainda um terceiro indivíduo, as organizações de produção.
Essa tríade de sujeitos em sociedade, apresentados de forma bastante analítica,
descrevem comportamentos sociais que caracterizam todo grupo, de forma coletiva
ou individual. Assim os homens se reproduzem, se asseguram dos perigos, suprem
sua existência, garantem sua alimentação, seu trabalho natural, se divertem, se
associam às crenças pessoais ou coletivas, constroem sua história e sua
cultura.
Deste
contexto, minha reflexão agora quer extrair a produção, ou seja, o homem para
suprir às nuances de sua vida em sociedade, descreve uma ação social
fundamental: a produção.
Para que o
convívio social seja possível, as necessidades humanas devem ser supridas de alguma forma e por isso
surgem nos meios sociais os modos de produção. As Organizações produtivas, como
chamo nessa reflexão, são então as formas estruturais que garantem a produção.
No início
da vida em sociedade, tais organizações eram estruturadas de forma primitiva,
com uma relação de gênero minimamente determinante, enquanto homens se
afastavam das tribos para atividades de caça e pesca, as mulheres se mantinham
nelas, cuidando e protegendo as crias (filhos), elaborando outras atividades
produtivas instaladas na própria tribo (dizem que essa foi a origem da
agricultura). Com a evolução da espécie, as tribos começaram a propagar-se,
inclusive interagindo com outras tribos, originando relações de troca,
constituídas a seguir pela atividade do comércio. Outras organizações, ligadas
ao governo ainda se fundavam, mas especialmente para garantir segurança e
organização dos aglomerados que se formavam, especialmente com a fixação do
homem a terras de modo definitivo.
A evolução
dessa vida em sociedade, na antiguidade estabeleceu outras organizações
elaboradas de forma mais complexa, contudo ainda como organizações produtivas.
Essa forma
de exercício do modo de produção, atravessa a antiguidade e se consolida na
idade média, caracterizando uma involução dada pela constituição de feudos,
onde comunidades viveram mais segmentadas em grupos sociais, regidos por
senhores feudais, nomeados por um governo de soberanos, que se caracterizava
pelo autoritarismo. A orientação
cultural e a espiritualidade tinha uma contribuição determinante imposta pela
influência de uma igreja forte, que dominava e subjugava os serem sociais, a
partir da de uma doutrina opressora e incisiva. Esse modelo impunha uma vida em
sociedade mais reclusa, mas notadamente protetiva de incessantes perigos
invasivos, provocados por guerras constantes e a instituição da barbárie.
Esses
perigos à sociedade passam a ser combatidos pelo amadurecimento do poder
central, autoritário e soberano, que mantinha o modo de produção baseado na
manufatura artesanal e na agricultura, onde as organizações cresciam em
complexidade, mas se mantinham eminentemente produtivas. Contudo, com a maior
liberalização da sociedade, ideias iluministas se expandem na busca de uma
ampliação da liberdade entre os sujeitos. Alguns especificamente, protegidos
por privilégios do governo, pela instituição
de leis voltadas para seus interesses e por sua iniciativa mercantil, se
destacam em relação a grande maioria, e tomam a frente das organizações
produtivas, culminando com a origem de uma classe social distinta, no período originário
chamado idade moderna.
Esses
privilégios distintivos, fizeram com que essa classe social, diferenciada e
dominante, provocasse uma extraordinária revolução cultural na sociedade. Sua
força de influenciar o governo (muitas vezes de conduzir o governo) e de
possuir os meios de produção para si, os dotaram de uma capacidade de domínio
das organizações produtivas, que sob seu comando exclusivo, transformaram-se em
organizações interessadas não mais em atendimento das necessidades sociais,
prioritariamente, e sim em um outro tipo, voltadas para acúmulo de capital.
Esse marco social determinou a inversão do modo de produção, antes artesanal e
agrícola, para outro interessado no capital e nominado modo de produção
industrial. Desta inversão cultural gigantesca surgem o que chamo aqui de
organizações econômicas.
Tais
organizações econômicas então, são aquelas que atendem as necessidades da
sociedade em geral, mas não interessadas no uso de cada produto e sim na troca
por capital, oferecendo a seus mandatários acúmulo constante e intensivo das
riquezas sociais e cada vez mais, tornando-os uma classe distinta e
privilegiada.
A
organização econômica, nesses moldes capitalistas e industriais, que quero
discutir nesse momento é a que implantou, estabelece e conduz o que vivemos na
atualidade - A Copa do Mundo da Fifa no Brasil – A organização econômica
chamada Fifa.
Isso mesmo,
esta organização econômica, muito embora não tenha no escopo de seu produto
principal um bem de manufatura, cresce vertiginosamente na produção do serviço
do futebol. Se apropria dessa cultura popular centenária exclusivamente para
beneficiar uma classe privilegiada e acumular cada vez mais capital em torno de
suas estruturas econômicas.
Exatamente
como as organizações econômicas originarias do inicio da idade moderna, a Fifa
conduz suas ações a partir de ações determinantes na caracterização do conceito
dessa forma organizacional. Acumula capital, se utiliza dos artifícios
orientados pelo mercado e promove ações baseadas em eficiência produtiva e
burocrática, transformando-se cada vez mais em uma organização gigantesca,
inatacável e indestrutível, mas também elitista e discriminante.
No caso das
copas do mundo, temos isso muito claro. Desde sempre esse evento é orientado
pela ditadura de gestão imposta pela Fifa, subjugando governos, outras
organizações complementares e a sociedade de modo geral. O Padrão Fifa,
padroniza tal força elitista e dominadora, estabelecendo estereótipos em torno
de seu eventos, que produzem condições de poder e controle absolutos de todos
os outros envolvidos.
De modo
prático e direto, podemos citar algumas ações em torno da organização de uma
copa do mundo que confirma essa imposição da organização econômica Fifa. Os
governos do país sede, em todos os níveis, municipal, estadual e federal, tem
que criar condições apropriadas para a manutenção do poder e do privilégio da
Fifa. Leis são criadas, organizações são reorientadas, investimentos públicos e
privados são empenhados, tudo em função da organização econômica dirigente, a
superpoderosa Fifa.
Os seus
dirigentes, são protegidos em suas ações, sejam elas corruptas, criminosas,
elitistas ou discriminatórias, não importa! Há uma blindagem estabelecida pelo
contexto socioeconômico, garantida por governos, em leis e estruturas
institucionais; outras organizações complementares, que com sua ação ganham
economicamente na distribuição de seus produtos e serviços; e pasmem, pela sociedade
em geral, que hipnotizada pela onda sedutora da indústria de comunicação de
massa, garantem sua ação pervertida, pela associação emocional que assumem nos
eventos ligados a copa o mundo, e especialmente, nesse evento maior.
Veja por
exemplo, no que se refere a associação dos sujeitos da sociedade em geral, como
a dominação é algo subliminar. Os voluntários da Fifa, sujeitos que garantem a
possibilidade de ocorrência da grande maioria de eventos e estruturas da copa
do mundo, trabalham sem ganhar nenhum tostão, são submetidos a ordens que
reprimem seus movimentos, são excluídos do evento em sua característica de
entretenimento, e mesmo assim, surgem com uma satisfação eufórica e
compensatória de suas possíveis “perdas”. Não se dão conta que a Fifa economiza
milhões de dólares em expensas, a partir de sua voluntariedade. Se contentam
com um lanche, a aproximação dos astros (também agentes sociais explorados) e
uma possível experiência para trabalhar no futuro em uma organização econômica.
Saem felizes para a vida toda!
As ações de
exploração e expropriação, destaca privilégios a sujeitos e organizações em
dimensão secular. Os dirigentes são representantes de uma elite cada vez mais
reduzida. Os dirigentes se mantem na Fifa por décadas, como no caso de seu
atual presidente e do presidente anterior, que por acaso é um brasileiro,
intocáveis em suas ações.
Centenas de
organizações complementares orbitam em torno dessa organização econômica,
sustentadas a base de privilégios, propinas e cooptação por pressão e dominação
burocrática, sem sair desse entremeado circulo vicioso, ou por medo que a organização
central as destrua, ou por usufruir privilégios paralelos que os mantém também
corruptos e dominadores.
Assim, acredito que minha reflexão posta, possa
identificar porque de minha manifestação de protesto. NÃO assistindo os jogos
da seleção brasileira na copa do mundo, dessa organização nociva e inescrupulosa,
a Fifa!
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