Blog do Professor César Renato


Depois de algum tempo inativo, e pela disposição e necessidade de estabelecer novamente um canal de comunicação com meus interlocutores externos, este blog volta ao ar.
Nele pretendo, dentro do possível, semanalmente discorrer sobre algumas questões que julgo importantes e que percorrem minhas comunidades em alguma medida, tanto no micro-espaço que me situo, quanto no macro-espaço social onde estamos todos.
Quem pretendo alcançar são aqueles que estou mais perto, como família, especialmente meus filhos, amigos, alunos e colegas em geral. Minhas colocações buscam alcançar meu ponto de vista sobre temas que acredito serem pertinentes a discussão.

sábado, julho 12, 2014

O dilema de uma sociedade econômica versus a redenção do homem sobre a terra! #paremasmaquinas

Durante todo esse mês, enquanto aconteciam os jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo da Fifa 2014, por uma manifestação pessoal, resolvi NÃO assistir os jogos  do escrete canarinho. Essa manifestação esteve baseada em uma forma individual de protestar contra o estado de coisas posto na atualidade, mas também na possibilidade de refletir pessoalmente e na interação com quem ler essas crônicas sobre uma série de realidades que compõe e estruturam a sociedade em que vivemos.
Inicialmente, sob meu ponto de vista, acredito que a Copa do Mundo da Fifa, reflete uma condição maior de postura social. Atualmente vivemos por um objetivo eminentemente econômico, que busca orientar a vida humana para o trabalho, como ação prioritária em busca da acumulação de capital, em detrimento da preocupação que se deve ter com a qualidade de vida, com a estruturação da cultura popular, com a integração entre as pessoas e com a convivência possível entre seres humanos e os demais elementos que compõe a biosfera.
Nessa escolha em que todos fizemos, há uma clara distinção entre seres humanos em classes sociais diametralmente opostas. De um lado um pequeno grupo de pessoas que detém os meios de produção, que serão aplicados na produção de mercadorias e sua disponibilização ao consumo, se apropriando indevidamente do excedente de capital que esta distribuição acarretar; de outro, a grande massa social, que incapaz de possuir meios de produção e pressionados pela necessidade de sobrevivência, se enquadram no sistema socioeconômico, vendendo sua força humana de trabalho e garantindo o consumo das mercadorias postas a venda. Essa divisão cria cada vez mais dois grupos muito distintos em relação ao capital, sendo que o primeiro, cada vez mais restrito acumula capital intensivamente, se aproveitando das benesses desse efeito e reinvestindo o excedente em outros mecanismos de produção industrial e serviços; e o segundo grupo, restrito de condições econômicas, ou garantem sua sobrevivência da forma que lhes é possível, ou sendo arrastados para o banimento das condições razoáveis de vida humana, aumentando o contingente de excluídos deste sistema econômico voraz.
Nesse formato, há um papel de mediação, cumprido pelo Estado, organizado por governos em diversos níveis, municipal, estadual e federal, no caso de nosso país, que apesar de ter surgido para atender o interesse da sociedade como um todo, acaba se tornando organismo servil da minoria que detém o poder econômico. Os governos e os políticos, são inicialmente escolhidos na grande maioria das vezes pelo instrumento social do voto, onde todos os cidadãos tem o direito constitucional de exercer seu poder de escolha, contudo, após assumirem seus cargos públicos, pervertem o desejo popular de quem os escolheu e assumem um papel na institucionalização, judicialização e proteção das organizações econômicas, no sentido de garantir-lhes cada vez mais privilégios e caminho livre para atingirem seus objetivos de lucro e acúmulo incessante e progressivo.
Nesse contexto de perversão da sociedade de todos para a sociedade de garantia às organizações econômicas, há ainda um pesado esquema de produção de cultura de massa, criando um ambiente que aliena as mentes humanas, produzindo nas pessoas uma automação para o trabalho e para o consumo, em detrimento a sua ação social coletiva, construída no amálgama formado pela cultura popular, pela integração dos seres e pela interação com a natureza, que promova a vida em sociedade ordenada pela busca da qualidade de vida e o uso adequado de recursos naturais.
Essa escolha socioeconômica enfim, torna-se possível apenas no formato intensivo, tanto na concentração humana, quanto na produção crescente de produtos, bens e serviços, para o consumo que produz acúmulo de capital. Por isso as estruturas são organizadas a partir da criação de grandes aglomerações humanas, concentradas em espaços geopolíticos de fácil acesso pelos mecanismos de distribuição e massificação humana, torneadas pela cultura de massa, que determina a homogeneização das pessoas, de suas escolhas e seus costumes. Vivemos em grandes tribos, pensando e desejando a mesma coisa, que a máquina de produção das estruturas de organizações econômicas cria e que a indústria da cultura de massa implanta em nosso inconsciente como produtos de nosso desejo.
A Fifa, organizadora central da Copa do Mundo, é um exemplo desse tipo de organização econômica, que como muitas outras, são núcleos vitais desse sistema. Comandam a sociedade econômica, a partir de uma dominação formal e legal, possível a partir da burocratização da vida em sociedade, e da limitação e opressão que os governos servis impõe aos cidadãos. Somos todos nós, classe dominante e classe dominada, estereótipos autômatos, criados por uma cultura de massa, onde uns compõe uma elite, e todos os outros, servos do sistema econômico que sustenta e provê os objetivos econômicos.
Na verdade não poderia concluir essa reflexão com tom de apologia contra ideológica, sem emitir uma posição pessoal sobre o que escrevo. Minha posição contrária está, e esteve ao longo de minhas crônicas, muito clara. Esse império de alguns sobre todos, instalados nas estruturas das organizações econômicas e defendidos pela estrutura de um Estado servil e corrupto, potencializando a riqueza de um lado, e a opressão e dizimação das possibilidades de vida igualitária da sociedade de outro, não reúne condições de existência perene, sem que o caminho seja o caos e a extinção da raça humana. Mas frente a essa realidade hostil, qual é a solução?
É Evidente que não vou escrever em algumas próximas laudas desta reflexão, onde no final serão apresentadas soluções para esse dilema indissolúvel. Não tenho a mínima capacidade intelectual que sinalize qualquer possibilidade nesse sentido. Aqui, e no decorrer do texto, há uma posição de um cidadão, que organiza algumas ações que podem estar orientadas para uma transformação, que mesmo que mínima no contexto holístico da sociedade, são resultados de minha opinião pessoal na transformação da sociedade.
Primeiro de tudo, há uma necessidade eminente de reduzirmos o ritmo frenético de produção de mercadorias, bens e serviços, que alimentam um esquema de consumo absurdo, tanto pelo fato de que são muito maiores em volumes, daquilo que realmente necessitamos, e ainda pelo fato de que, para sua viabilização produtiva, está ocorrendo uma apropriação abusiva dos recursos naturais disponíveis.
O movimento que tenho chamado, ao longo de minha atividade acadêmica, de “parem as máquinas”, encaminha a organização econômica para isso. O consumo, orientado para necessidades humanas baseadas no uso e não na troca, exige uma demanda muito menos de produtos, bens e serviços, o que produziria de modo crescente uma redução dos mecanismos de produção industrial e ação mercantil. Essa redução instituiria uma nova demanda humana, menos intensiva e baseada em desejos estéreis, criados por posição de status social e discriminação de uns em detrimento de outros.
Quando me refiro a uma parada nas máquinas, não estou dizendo que, de hoje para amanhã, precisemos fechar todas as fábricas de automóveis, refrigerantes, calçados, etecetera; ou intervir em todos os bancos privados, redes de televisão, e federações internacionais de futebol, como a Fifa, ou outros esportes. O que digo, é que será necessário uma sociedade que conduza o cidadão para usos e costumes não econômicos e sim sociais. Os lucros das organizações econômicas tem que existir, mas em grande parte e necessariamente, reverterem-se em ações que promovam o fim da exploração humana para o trabalho, em investimentos sociais que complementem a subsistências das massas que não tem possibilidade de emprego e renda, em humanização dos espaços urbanos, hoje criados para prédios e carros, em detrimento da natureza e das pessoas.
A cultura de massa, que homogeneíza o pensamento humano, fazendo com que só um componente cultural seja absorvido por uma grande massa de pessoas, precisa interromper seu processo de crescimento. Essa cultura, produzida por organizações de comunicação elitizadas, orientadas e comandadas apenas por um grupo seleto de pessoas, precisa ser tomada por grupos mais diversos, mais amplos, mais democraticamente constituídos. Os conhecimentos precisam ser aplicados em uma base de referência ampliada, com uma gama de informações que considere várias tendências, tipos de seres humanos mais diversos, homens, mulheres, orientações sexuais diferentes dessas; raças diferentes da predominância branca; cidadãos da periferia, das cidades, das colônias, das tribos, enfim, a cultura deve ser constituída de tantos fragmentos, quanto tantas manifestações distintas sejam produzidas.
Essa “nova expressão cultural” tem um nome, e nos remete a algo que não é novo, e sim foi reprimido pela cultura de massa. A cultura tradicional, que aplica conhecimentos a partir de sabedorias antigas, passadas à sociedade geração após geração, dos nossos avós a nossos pais, e dai para nosso domínio, é esse núcleo cultural poderoso, capaz de reconstituir uma sociedade de homens e da natureza. A cultura tradicional existe no seio de cada uma das comunidades, e a diferença de uma comunidade para outra tem que ser preservada, sob pena de romper a independência e legitimidade de povos que fazem escolhas para si e para seus pares e desta forma romper a vida em sociedade como um todo, pois na há igualdade, em ambientes que distingam uns, com poder, e outros, minorias reprimidas. A cultura tradicional é a cultura da musica que queremos ouvir, da roupa que queremos vestir, da comida que queremos digerir, e não de uma única “coisa” criada apenas na premissa da produção e do consumo intensivo.
Outro efeito indispensável para a pulverização do dilema que nos corrompe, é a incondicional destituição dos aglomerados urbanos. Atualmente vivemos empilhados em caixotes de concreto, em formigueiros humanos, em apinchados de seres autômatos. Tribos condicionadas que pensam do mesmo modo, caminham para o mesmo sentido, respiram o mesmo ar, cada vez menos privados de oxigênio e ar saudável, cada vez mais orientados pela mesma flauta hipnotizante. O interior dos territórios nacionais estão abandonados a sua própria sorte, porque esses espaços geográficos estão longe da possibilidade de distribuição lucrativa de produtos, ou são absorvidos pela produção intensiva de “commodities”, ou seja, uma roça comum de produtos agrícolas que não são produzidos para que a população seja alimentada, mas sim para criar contratos financeiros, e exportadas para locais do planeta, que não tem a menos identificação com sua geração natural. Esses espaços, mais organizadamente distribuídos, criarão populações mais consistentes em sabedorias, bem estar e convivência saudável com suas comunidades e com a natureza. As máquinas precisam parar também na produção intensiva de alimentos, onde as safras são decididas primeiro nas bolsas de valores espalhadas pelo mundo, e depois se determina quando serão consumidas e quem fará isso, muito embora na maioria das vezes são produto de desperdício, apodrecendo em estoques mundiais, enquanto milhões de cidadãos passam fome por serem excluídos de sua existência.
Finalmente, a lógica do Estado precisa mudar, os governos e governantes precisam mudar, a política e as formas de gestão precisam mudar. A institucionalização de uma democracia representativa foi produzida face as grandes aglomerações urbanas, onde poucos tem que decidir por muitos. O Fim das aglomerações irá certamente contribuir para uma forma mais direta de democracia, onde todos, o tempo todo, podem tomar suas decisões de existência. Uma política de poucos políticos, produziu ao longo da história, e produz nos dias de hoje, a existência de sujeitos individualistas, que pensam exclusivamente em deter poder e dinheiro, não se importando com decisões que sejam de atendimento amplo as comunidades. Desta ação egoísta de nossos políticos, surgiu a corrupção, as barganhas, os favorecimentos, a improbidade e a riqueza ilícita. O fim desses personagens sinistros é uma necessidade eminente de uma nova sociedade, que pode pensar no milagre da manutenção da vida e da natureza.
Nesse momento, creio que a Copa do Mundo da Fifa tenha acabado para a seleção brasileira. Já sabemos que a derrota acachapante que esses sujeitos, atletas operários da Fifa, sofreram. O que acho sinceramente, é que os atletas campeões e os derrotados perdem. Os primeiros menos, pois tem um resíduo de alegria, baseado nas migalhas da conquista histórica, que não é nada perto dos volumes que a exploração sobre eles criou, e os outros ainda pouco, pois sua derrota só será sentida por eles mesmos, e pela população que os apoia. Essa tristeza e alegria estéril e superficial, é produto da cultura de massa difundida pelas organizações econômicas como a Fifa, que cria esse circo de ilusões, e sob suas lonas acumula as imensas vantagens econômicas que esses pobres atores sociais produzem a elas. Esse tipo de sociedade tem de acabar. Por isso escrevi tudo isso, ao longo desse mês que abrigou no tempo esse evento de alguns lobos e milhões de carneirinhos!

terça-feira, julho 08, 2014

Da vida em sociedade à vida em função das organizações econômicas – A grande transformação da modernidade. #fifaloboemaquina

Desde a origem da vida humana, ha milhões de anos atrás, há uma constatação com a qual todos nós devemos conviver. O Homem não é um ser só. A vida acontece de forma coletiva. Mesmo que constituído de forma individual, a integração com outros indivíduos é absolutamente inescapável. Esse dilema absolutamente sem solução teve que, ao longo do tempo, construir mediações possíveis. Dessa forma o homem estabeleceu relações entre si, cujas determinações buscavam permitir que cada sujeito, mesmo com seu próprio estado de natureza, pudesse conviver com outros, em uma relação que permitia a convivência pacífica e detinha um estado constante de guerra de um contra todos e de todos contra um. Alguns teóricos defendem essa relação a partir de um comprometimento que chamam de “contrato social”. Sem discutir sua validade teórica, nem estabelecer contraponto com outras teorias, quero iniciar essa reflexão incorporando três personagens nessa relação interativa, a partir de uma perspectiva conduzida por esse conceito: o indivíduo, o governo e as organizações, que originalmente tratarei como organizações produtivas.
Pois bem, a sociedade é composta por indivíduos. Esses para estabelecer uma relação de paz, constituem indivíduos em particular, que compõe o governo, que tem a incumbência de manter a sociedade em convivência pacífica, responsabilizados por sua integração, e ordenando o atendimento de suas necessidades. Tais necessidades sociais são organizadas fundamentalmente pela produção, o que infere no contexto ainda um terceiro indivíduo, as organizações de produção. Essa tríade de sujeitos em sociedade, apresentados de forma bastante analítica, descrevem comportamentos sociais que caracterizam todo grupo, de forma coletiva ou individual. Assim os homens se reproduzem, se asseguram dos perigos, suprem sua existência, garantem sua alimentação, seu trabalho natural, se divertem, se associam às crenças pessoais ou coletivas, constroem sua história e sua cultura.
Deste contexto, minha reflexão agora quer extrair a produção, ou seja, o homem para suprir às nuances de sua vida em sociedade, descreve uma ação social fundamental: a produção.
Para que o convívio social seja possível, as necessidades humanas devem  ser supridas de alguma forma e por isso surgem nos meios sociais os modos de produção. As Organizações produtivas, como chamo nessa reflexão, são então as formas estruturais que garantem a produção.
No início da vida em sociedade, tais organizações eram estruturadas de forma primitiva, com uma relação de gênero minimamente determinante, enquanto homens se afastavam das tribos para atividades de caça e pesca, as mulheres se mantinham nelas, cuidando e protegendo as crias (filhos), elaborando outras atividades produtivas instaladas na própria tribo (dizem que essa foi a origem da agricultura). Com a evolução da espécie, as tribos começaram a propagar-se, inclusive interagindo com outras tribos, originando relações de troca, constituídas a seguir pela atividade do comércio. Outras organizações, ligadas ao governo ainda se fundavam, mas especialmente para garantir segurança e organização dos aglomerados que se formavam, especialmente com a fixação do homem a terras de modo definitivo.
A evolução dessa vida em sociedade, na antiguidade estabeleceu outras organizações elaboradas de forma mais complexa, contudo ainda como organizações produtivas.
Essa forma de exercício do modo de produção, atravessa a antiguidade e se consolida na idade média, caracterizando uma involução dada pela constituição de feudos, onde comunidades viveram mais segmentadas em grupos sociais, regidos por senhores feudais, nomeados por um governo de soberanos, que se caracterizava pelo autoritarismo. A  orientação cultural e a espiritualidade tinha uma contribuição determinante imposta pela influência de uma igreja forte, que dominava e subjugava os serem sociais, a partir da de uma doutrina opressora e incisiva. Esse modelo impunha uma vida em sociedade mais reclusa, mas notadamente protetiva de incessantes perigos invasivos, provocados por guerras constantes e a instituição da barbárie.
Esses perigos à sociedade passam a ser combatidos pelo amadurecimento do poder central, autoritário e soberano, que mantinha o modo de produção baseado na manufatura artesanal e na agricultura, onde as organizações cresciam em complexidade, mas se mantinham eminentemente produtivas. Contudo, com a maior liberalização da sociedade, ideias iluministas se expandem na busca de uma ampliação da liberdade entre os sujeitos. Alguns especificamente, protegidos por privilégios do governo, pela instituição  de leis voltadas para seus interesses e por sua iniciativa mercantil, se destacam em relação a grande maioria, e tomam a frente das organizações produtivas, culminando com a origem de uma classe social distinta, no período originário chamado idade moderna.
Esses privilégios distintivos, fizeram com que essa classe social, diferenciada e dominante, provocasse uma extraordinária revolução cultural na sociedade. Sua força de influenciar o governo (muitas vezes de conduzir o governo) e de possuir os meios de produção para si, os dotaram de uma capacidade de domínio das organizações produtivas, que sob seu comando exclusivo, transformaram-se em organizações interessadas não mais em atendimento das necessidades sociais, prioritariamente, e sim em um outro tipo, voltadas para acúmulo de capital. Esse marco social determinou a inversão do modo de produção, antes artesanal e agrícola, para outro interessado no capital e nominado modo de produção industrial. Desta inversão cultural gigantesca surgem o que chamo aqui de organizações econômicas.
Tais organizações econômicas então, são aquelas que atendem as necessidades da sociedade em geral, mas não interessadas no uso de cada produto e sim na troca por capital, oferecendo a seus mandatários acúmulo constante e intensivo das riquezas sociais e cada vez mais, tornando-os uma classe distinta e privilegiada.
A organização econômica, nesses moldes capitalistas e industriais, que quero discutir nesse momento é a que implantou, estabelece e conduz o que vivemos na atualidade - A Copa do Mundo da Fifa no Brasil – A organização econômica chamada Fifa.
Isso mesmo, esta organização econômica, muito embora não tenha no escopo de seu produto principal um bem de manufatura, cresce vertiginosamente na produção do serviço do futebol. Se apropria dessa cultura popular centenária exclusivamente para beneficiar uma classe privilegiada e acumular cada vez mais capital em torno de suas estruturas econômicas.
Exatamente como as organizações econômicas originarias do inicio da idade moderna, a Fifa conduz suas ações a partir de ações determinantes na caracterização do conceito dessa forma organizacional. Acumula capital, se utiliza dos artifícios orientados pelo mercado e promove ações baseadas em eficiência produtiva e burocrática, transformando-se cada vez mais em uma organização gigantesca, inatacável e indestrutível, mas também elitista e discriminante.
No caso das copas do mundo, temos isso muito claro. Desde sempre esse evento é orientado pela ditadura de gestão imposta pela Fifa, subjugando governos, outras organizações complementares e a sociedade de modo geral. O Padrão Fifa, padroniza tal força elitista e dominadora, estabelecendo estereótipos em torno de seu eventos, que produzem condições de poder e controle absolutos de todos os outros envolvidos.
De modo prático e direto, podemos citar algumas ações em torno da organização de uma copa do mundo que confirma essa imposição da organização econômica Fifa. Os governos do país sede, em todos os níveis, municipal, estadual e federal, tem que criar condições apropriadas para a manutenção do poder e do privilégio da Fifa. Leis são criadas, organizações são reorientadas, investimentos públicos e privados são empenhados, tudo em função da organização econômica dirigente, a superpoderosa Fifa.
Os seus dirigentes, são protegidos em suas ações, sejam elas corruptas, criminosas, elitistas ou discriminatórias, não importa! Há uma blindagem estabelecida pelo contexto socioeconômico, garantida por governos, em leis e estruturas institucionais; outras organizações complementares, que com sua ação ganham economicamente na distribuição de seus produtos e serviços; e pasmem, pela sociedade em geral, que hipnotizada pela onda sedutora da indústria de comunicação de massa, garantem sua ação pervertida, pela associação emocional que assumem nos eventos ligados a copa o mundo, e especialmente, nesse evento maior.
Veja por exemplo, no que se refere a associação dos sujeitos da sociedade em geral, como a dominação é algo subliminar. Os voluntários da Fifa, sujeitos que garantem a possibilidade de ocorrência da grande maioria de eventos e estruturas da copa do mundo, trabalham sem ganhar nenhum tostão, são submetidos a ordens que reprimem seus movimentos, são excluídos do evento em sua característica de entretenimento, e mesmo assim, surgem com uma satisfação eufórica e compensatória de suas possíveis “perdas”. Não se dão conta que a Fifa economiza milhões de dólares em expensas, a partir de sua voluntariedade. Se contentam com um lanche, a aproximação dos astros (também agentes sociais explorados) e uma possível experiência para trabalhar no futuro em uma organização econômica. Saem felizes para a vida toda!
As ações de exploração e expropriação, destaca privilégios a sujeitos e organizações em dimensão secular. Os dirigentes são representantes de uma elite cada vez mais reduzida. Os dirigentes se mantem na Fifa por décadas, como no caso de seu atual presidente e do presidente anterior, que por acaso é um brasileiro, intocáveis em suas ações.
Centenas de organizações complementares orbitam em torno dessa organização econômica, sustentadas a base de privilégios, propinas e cooptação por pressão e dominação burocrática, sem sair desse entremeado circulo vicioso, ou por medo que a organização central as destrua, ou por usufruir privilégios paralelos que os mantém também corruptos e dominadores.
Assim, acredito que minha reflexão posta, possa identificar porque de minha manifestação de protesto. NÃO assistindo os jogos da seleção brasileira na copa do mundo, dessa organização nociva e inescrupulosa, a Fifa!

sexta-feira, julho 04, 2014

Copa do Mundo do Brasil 2014 – Quem ganha, quem perde? Ganha de quem, perde pra quem?#copaseparanaoune

Eis que Copa da Fifa continua, eis que mais uma vez estou aqui pra refletir com cada um dos que me leem. Mas antes quero contar-lhes algo que me aconteceu hoje, pela manhã, no supermercado. Creio que depois de lerem meu texto conseguirão entender um pouco mais, porque isso aconteceu!
Eu comprava limão, na “feira” do supermercado. Escolhia entre os que mais brilhavam (assim me ensinou meu pai, quando ainda era pequeno). Esse é um aprendizado que me foi dado pela tradição. Uma cultura popular que tanto defendo em meus textos. De repente, não mais que de repente, uma mulher ao lado me chama. Ela parecia escolher bananas, e me pergunta – Moço vocês vão colocar mais bananas aqui? Certamente pensou que eu era funcionário do supermercado, muito embora estivesse com uma camisa de time de futebol, bermuda e alpargatas(veja, eu com uma camisa de time de futebol lá, e agora aqui, sem assistir a Copa da Fifa!!! Mas já expliquei isso.) Antes que eu dissesse a ela que não trabalhava ali, ela mesmo disse-me – Opa, desculpe, pensei que fosse alguém do mercado. Antes ainda que eu respondesse, ela virou-se para uma moça, que certamente era funcionária, porque vestia-se com uniforme, e esbravejou a ela – Heiii, não vão repor bananas ali não!!!! (Isso mesmo, de modo grotesco e imperativo) Meu filho, que estava comigo chegou a sair de perto, indignado com a forma como tratou a menina. Mas esse não é o núcleo da história que quero contar, o mais bestial, a maior aberração, o ridículo vem agora. Depois que a moça respondeu-lhe, a tal mulher virou pra mim e falou-me: Desculpa moço, não é que você tenha cara de "pobre", é que me enganei mesmo!!!!! Tem ideia do que há na cabeça de um ser desses? Minimamente, ela, vestida com roufenhas da moda, e fazendo compras no mercado é, na opinião dela, “rica” e o trabalhador do mercado, quem quer que seja ele, é o “pobre”. Não acha isso sinistro? não te dá ânsia? Em mim deu. Olhei pra ela e só pude expressar uma reação. Ri, gargalhei, tive pena e fui embora! Queria sair de perto deste ser!
Guarde essa historinha. No final do texto quero que a use para refletir comigo!
O Argumento que quero dividir neste texto hoje é o seguinte: Quem ganha com um evento como a Copa da Fifa? Quem perde? Para isso pretendo estabelecer três perspectivas. O ganho econômico, o ganho político, e o ganho social. E dividir em cada uma delas, organizações produtivas, políticos e a sociedade em geral.
Tenho caracterizado desde o início dessas reflexões sobre a Copa da Fifa, a Fifa como uma organização econômica. Na escolha socioeconômica que fizemos na modernidade, o “ganho” econômico, sobrepõe e praticamente elimina, todo e qualquer outro ganho. As organizações econômicas vivem pelo lucro, que chamei de ganho, e pela acumulação de capital. De modo direto e objetivo, exclusivamente para isso!
Para ganhar dessa forma a organização econômica tem necessariamente que agir a partir de duas premissas fundamentais, que tratam (1) da exploração dos meios de produção de forma racional e burocrática, evitando qualquer tipo de majoração de custos financeiros; e (2) da garantia do consumo intensivo de tudo que produzem massivamente, pois quanto maior a produção, maior a venda, maior o ganho.
Nesse caso, os meios de produção podem ser divididos em três grandes grupos, quais sejam, a propriedade privada de locais, instalações e equipamentos; o capital investido para a produção; e a força de trabalho humana, necessária para o manuseio da maquinaria e do capital.
Quanto a propriedade privada, há séculos um grupo seleto e diminuto de pessoas tem se apropriado dela, pois são eles que investem na produção. O trabalhador comum não tem recursos para tal investimento e o Estado cria leis e institucionaliza a defesa dos que detém a mesma, assim como há uma burocracia que domina as ações humanas individuais, alijando como já disse a maioria da sociedade. Você pode me dizer que os trabalhadores ganham salários, e isso lhes garante o ganho econômico, mas isso não acontece, porque a eles só é distribuído o custo de sua mão de obra, relativo a venda de sua força de trabalho. O excedente de capital oriundo da venda dos produtos, é acumulado pelos investidores, para que os mesmos reinvistam na produção e mantenham para si mesmos grande parte dos resultados financeiros.
Como esse ganho econômico das organizações se reproduz? Primeiro com a instituição de uma racionalidade utilitária, que calcula as consequências de lucro a partir da redução de custos para obtenção de dos meios de produção, por isso que os salários não contém os lucros, e também pela produção intensiva e sempre crescente de produtos oferecidos ao mercado. Por isso que há alguns anos atrás falávamos com os outros pelo uso de um telefone fixo, hoje os temos ainda, contudo com mais alternativas para o mesmo fim, como celulares, smartphones, tablets, computadores, radiocomunicadores, canais de voz virtuais, etecetera. Essa proliferação de produtos para um mesmo fim, é o que chamei de intensiva e crescente oferta de produtos.
Além disso, esse ganho infinitamente crescente, se reproduz na massificação do consumo dos produtos. Esse efeito é produzido por uma indústria de comunicação de massa, que desenvolve através das mídias existentes, tais como, rádio, televisão, internet, entre muitas outras, mecanismos de convencimento das pessoas ao consumo. Um consumo cada vez maior, cada vez mais desenfreado, verdadeiramente enlouquecido. Quer um exemplo disso? Você usa uma calça para se vestir, como deve se vestir todos os dias, deveria ter pelo menos umas três calças certo? Pois bem, vá lá no seu armário e conte quantas calças tens. Se contou mais de três, isso se chama “consumo desenfreado”. Essas mídias que descrevi é que produziram esse efeito em você, em mim, em todos nós!
A Copa da Fifa tem exposto essa indústria de forma muito latente. Propagandas, garotos propaganda, sugestões de status, prazeres descritos ao consumir, são somente algumas das peripécias que nos fazem acreditar que para vivermos devemos consumir, depois consumir, e ainda consumir ... pra sempre e sempre consumir! Quanto você como trabalhador está ganhando efetivamente do produto de venda desse consumo? Quanto você acha que a costureira que alinhava as camisetas dos times que jogam na Copa da Fifa, levam desse ganho econômico? Reflita você sobre isso!
Outro ganho muito significativo é o ganho político. Esse ganho pode ser expresso pelo poder e dinheiro que políticos, profissionais ou não, obtém dos resultados das organizações econômicas. Vale lembrar aqui, que a política e a ação desenvolvida para cuidar dos cidadãos, nas cidades, nas comunidades, na sociedade em geral, enfim a política surgiu para cuidar de nossa vida, de nossas casas, enquanto nós desenvolvemos outras atividades vitais, que no caso é o trabalho, na sociedade que escolhemos viver.
Os políticos, com um evento como a Copa da Fifa, buscam promovê-lo nas comunidades em que tem ação. Com o sucesso de tal evento, ganham prestígio, ganham visibilidade, ganham votos, logo se mantém políticos, logo perpetuam-se no poder e dessa forma, no dito popular, podem se manter agarrados com força, nas “tetas do governo”! Sempre muito leitosas, sempre muito apetitosas!
Mas veja bem, não só o sucesso desses eventos produz ganhos. O insucesso deles também, porque dai, grupos contrários aos políticos eleitos, se aproveitam para tomar o seu lugar, criticando-os e responsabilizando-os pelo fracasso.
Sobre isso, podemos ver como os políticos nacionais estão se comportando quanto ao “legado da Copa da Fifa”. Obras foram prometidas e realizadas para as cidades, para o estado, para a nação, em função de estabelecer infraestrutura para receber a Copa da Fifa, estão sendo propagadas a quatro ventos, tais como os estádios, os aeroportos, os hotéis, as vias e aparelhos de mobilidade, etecetera. Políticos em todos os níveis tem ido a mídia e dito – Nós fizemos, nos construímos, nos viabilizamos, nós somos os “tais”. Em contrapartida as obras prometidas e não concluídas, ou sequer não iniciadas, são instrumentos para que outros políticos, de oposição aos que estão no poder, possam sair exaltando país a fora – Não fizeram, Não viabilizaram, desviaram verbas, enganaram a sociedade. Você consegue, vendo TV ou escutando rádio, identificar esses dois “tipos” de políticos? Pois então, eles existem as pencas! Eles existem aos borbotões. Com discursos tão hipócritas, que nos dá a impressão que não convencem nem a sim mesmos. A noticia ruim é que convencem! Não só a eles, mas a grande maioria de nós, que votamos em um ou em outro, e os mantemos no poder, em todos os níveis, garantindo a infinidade de seus ganhos. Percebe agora o que chamo de ganhos políticos? Mas porque votamos? É mais uma vez trabalho da indústria de comunicação de massas, que nos ilude, nos aliena, nos cega!
Mas espere, ganhos econômicos e políticos não são legítimos? Investidores e políticos não merecem se apropriar desses ganhos, se trabalham para isso, se desenvolvem seus papéis nessa estratégia de crescimento da sociedade? Minha opinião é que NÃO merecem! Minha opinião é que se apropriam do ganho de forma suja, ilícita, inescrupulosa. Minha opinião é que não ganham nada e sim ROUBAM tais ganhos! Exploram a grande maioria dos cidadãos envolvidos!!!!
Porque acho isso? Para isso preciso falar da terceira perspectiva de ganhos. Os ganhos da sociedade.
Você concorda que sociedade é o conjunto de todos os cidadãos? Dentre eles os investidores, os políticos, mas também o cidadão comum, fora das duas categorias iniciais, o trabalhador, o estudante, a dona de casa, os “alijados”!
(Cara!!!! To quase chorando de emoção aqui. Ao escrever isso olhei de lado e vi uma foto que tenho de meus três filhos, cidadãos dessa sociedade que falei, lembrei dos meus alunos, também cidadãos. Não chorei porque não tenho a capacidade de chorar fácil, como tem por exemplo os jogadores da seleção de nosso país. Acha que to sendo cínico né? Pois é, estou sendo mesmo)
Para falar dos ganhos da sociedade quero que façam um exercício. Vejam um “vídeo-tape” de uma partida dessas da Copa da Fifa. Veja se você consegue encontrar lá alguém que trabalha em supermercado, repondo produtos nas prateleiras, veja se vê alguém que consiga identificar como “pobre”, como falou a senhora que me encontrou no supermercado. Veja se lá há negros, mendigos, descamisados! Você não vai encontrar. Pode encontrar “Musas da Copa”, padrões de beleza impostos pela indústria de comunicação de massas, pode encontrar jovens e adultos, manuseando smartphones, postando felizes os resultados das partidas.
Na verdade, a sociedade em geral não ganha NADA com a Copa da Fifa, você não ganha, eu não ganho, ninguém que trabalha e estuda feito louco para sobreviver ganha! Há infinitas comprovações disso. Eu as vejo. Você a vê? Se não as vê, sorte sua, não sofrerá como eu e os “estranhados” ao sistema sofrem! Mas infelizmente, isso se converte também em azar. Azar de toda a sociedade. Por isso, me manifesto. NÃO assistindo os jogos da Seleção Brasileira na Copa da Fifa. É o que posso fazer nesse momento, é o que deixa tranquilo. É o que posso transferir para os meus!
(Se você encontra a senhora do mercado algum dia, espero que não pense como ela!)