Blog do Professor César Renato


Depois de algum tempo inativo, e pela disposição e necessidade de estabelecer novamente um canal de comunicação com meus interlocutores externos, este blog volta ao ar.
Nele pretendo, dentro do possível, semanalmente discorrer sobre algumas questões que julgo importantes e que percorrem minhas comunidades em alguma medida, tanto no micro-espaço que me situo, quanto no macro-espaço social onde estamos todos.
Quem pretendo alcançar são aqueles que estou mais perto, como família, especialmente meus filhos, amigos, alunos e colegas em geral. Minhas colocações buscam alcançar meu ponto de vista sobre temas que acredito serem pertinentes a discussão.

quarta-feira, janeiro 24, 2018

A musica é arte instantânea ... Eis uma que chama a atenção de cada um de nós! #liçãodevidaemacordes

Já de muito tempo tenho me preocupado com amigos, pessoas próximas, parentes, e algumas vezes até comigo mesmo, pelo estado de desânimo, com relação às nossas vidas,  ao qual nos acometemos dadas determinadas situações.
Não quero propor aqui que nossas vidas e nossos atos não precisem ser avaliados, criticados e corrigidos constantemente, o que quero refletir é sobre o quanto exageramos e nos cobramos a si mesmos, provocando males de toda ordem a nós mesmos.
Como já disse, refletia sobre isso há muito tempo e me dava a impressão que autoavaliações estão carregadas de problemas, para o bem e para o mal, já que tendemos as vezes a nos depreciarmos, revelando um estado de baixa autoestima, ou paradoxalmente, supervalorizar-mo-nos, numa onda de "tô me achando"! 
Se notarmos cuidadosamente, raramente nossas avaliações são uma média que tende ao equilíbrio verdadeiro.
Ao ouvir a música "Canção dos imperfeitos", de autoria de Padre Zezinho (o qual raramente ouço), em uma celebração religiosa que estive, me chamaram atenção algumas evidências acerca de nossas vidas.
Antes de tratar sobre elas, e me declarando seguidor da filosofia Cristã, quero deixar claro que minhas reflexões não vão dar esse tom de influência, e quero propor a quem ler, entender o que escrevo a partir de sua própria perspectiva de vida e visões de mundo.
Você pode ser materialista (Marx), racionalista (Descartes), funcionalista (Durkheim), positivista (Comte), ou nada disso, tratando a vida a partir do senso comum ou até por senso algum. O que quero é que reflita comigo a partir da essência que proponho.
As perguntas centrais são: Porque ao errarmos nos cobramos como se fossemos perfeitos? Ou ainda, Porque não conseguimos entender nossos erros? E invariavelmente os transferimos às muletas, responsabilizando outros ou situações.
Somos seres de carne e osso, distantes do conhecimento e dos valores plenos, aprendendo todos os dias sobre a vida e suas interações. Somos fruto de uma sociedade fracionada por disfunções, culturais, econômicas, sociais, políticas, enfim ... muitas disfunções!
A perfeição, ou na minha opinião, sequer um estado de excelência social, é um estado de utopia. Invariavelmente somos preconceituosos, violentos em conceitos, desequilibrados na ação, porque então não poderemos ser flagrados por alguns destes defeitos, porque sofremos tanto quando isso acontece.
Alguém aqui é DEUS, seja ele traduzido em qualquer doutrina que o reconheça?
Alguém aqui é fundado no "Tipo Ideal", que caracteriza a perfeição do fenômeno que se revela?
Alguém aqui é integrante de uma sociedade ideal, comunista, socialista, purista, ou qualquer que seja?
A resposta é lógica ... NÃO ... então porque não nos reconhecermos assim, imperfeitos, e ao invés de nos martirizarmos com isso, nos medicarmos por depressão, loucura, patologias, não buscamos as soluções em nós mesmos.
O auto-aprendizado pode ser um caminho, a Fé em algo ou alguém maior, pode ser outro (A minha está na filosofia Cristã, como disse, mas isso não é incondicional), a busca em outros amigos próximos, para discutirem juntos às soluções, a internalização pessoal, a (re)valorização da própria vida ... afinal há muitas formas de agir.
O que não pode, é se achar o pior dos piores e deu!
Isso só piora as coisas ... Ah piora!

A propósito ... eis ai embaixo a letra da música a que me referi, e o link de seu vídeo:

Canção dos Imperfeitos
Padre Zezinho

E se for pra semear a esperança num jardim
E se for pra desculpar uma criança eu digo sim
E se for pra perdoar não tenho escolha
Também sou pecador, também preciso de perdão

Não sou santo nem sou anjo e nem demônio eu sou só eu
Imperfeito, insatisfeito, mas feliz, aqui vou eu
Eu sou contradição, eu sou imperfeição, só deus é coerente

Já sorri, já fiz feliz, já promovi, já elevei
Já chorei, já fiz chorar, já me excedi, já magoei
Eu tenho coração
Mas sou contradição só Deus acerta sempre

Por isso eu canto esta canção, canção de amor arrependido
Ao Deus que é pai, ao Deus que é paz
Ao Deus que é luz, ao Deus que é vida
Pois quando a gente cai Deus age como pai Perdoa, perdoa
E torna a perdoar e ensina como amar
Eu sou contradição eu sou imperfeição
Mas Deus, ele é perdão!

https://www.youtube.com/watch?v=74YRozXULzI

segunda-feira, janeiro 01, 2018

Um Gênio a serviço da Lucidez

Em tempo de "Feliz Ano Novo", e buscando refletir sobre o que há de novo nos dias, nos meses e nos anos que se sucedem, quero me referir a uma recente obra da literatura internacional, "Ensaios sobre a lucidez", de José Saramago.
O autor renomadíssimo de "Ensaio sobre a cegueira", como em uma continuação desta sua primeira obra de 1995, onde quis despertar em todos nós o quanto "não somos bons" e procurou nos abrir os olhos para essa dura realidade, parece ensaiar agora os motivos pelos quais não alcançamos tal virtude.
Em uma obra sem muito argumento ou enredo, onde personagens se alteram no decorrer dos capítulos, como se deles não se esperasse nada, e neles não se encarnasse qualquer tipo de protagonismo, o autor expõe a luz da sua genialidade um dos fenômenos mais proeminentes da vida social, a política, e trata dela de forma a dissecá-la sem nenhum tipo de pudor ou reticência.
A partir da cena de uma eleição, vislumbra o resultado das urnas, especialmente na capital do país em que desenvolve o espaço de seu cenário.
No final de um dia todo de votação, ao apurarem-se os votos da capital, são revelados resultados impressionantes, já que os partidos concorrentes somados, tem pouco mais do que quinze por cento dos votos escrutinados, sendo todo o restante, votos em branco.
O alvoroço dos políticos, ora no poder, é tamanho que tratam de anular imediatamente o pleito e convocar a repetição da eleição para a semana seguinte, contudo para sua repetida indignação, os resultados da semana anterior se repetem.
Desde este ponto, os políticos agem sobre a população da capital, pelas formas sórdidas, absolutistas, imperiosas, bizarras e desiguais, que qualquer politico, tanto em governos autoritários, como noutros, ditos democráticos, tem agido sempre, desde sua mais original existência.
Há contudo, na reação dos eleitores, movimentos de lucidez espetaculares, que acabam por alucinar os políticos, de modo a forçar-lhes a erros de decisão um após outro.
No final, como é sabido, o autor deixa a impressão que a lucidez das pessoas se apaga, como uma luz que se esvai, e que a política, suja e discriminatória, recupera o principal estado que pretende de cada um dos seus eleitores, a alienação!
Para os que querem aproveitar a obra de Saramago, no sentido de buscar o entendimento desta política, e as formas possíveis de resistência a ela, convido que reflitam sobre algumas das questões que o autor revela ao longo de seu texto.
Primeiramente, a clara demonstração de que as associações humanas, representadas para o curso de seus direitos, por instituições, neste caso os partidos políticos e empresas de comunicação em massa, podem, e facilmente o são, ultrajadas em seus objetivos originais.
No caso de tais instituições, são formadas apenas pela representatividade da maioria e por grupos com interesses econômicos claros, e não por ela própria - a maioria - e como resultado desta formação falha, sempre se voltam aos interesses particulares dos próprios representantes, ou outros, investidores, que os corrompem para que deles se favoreçam.
Em segundo lugar, na descrição dos acontecimentos pelo autor, quando se refere às decisões políticas, fica claro e patenteado que as mesmas são movidas de modo espúrio, corrupto e secreto à grande maioria dos representados, quase que exclusivamente para dominá-los, dentro de um sistema social que busca favorecer a alguns e alienar a todos.
Finalmente, Saramago nos faz perceber pela sua obra, que a única forma de resistência e libertação dessa condição de autômato na vida em sociedade, é a lucidez, expressa por ele como chave central da ação humana, que só se promove pela autonomia, pela liberdade e pela participação efetiva de cada sujeito e todos eles, que juntos e emancipados se tornam resistentes aos núcleos de poder e controle, postos contra todos para favorecimento de alguns.
Sugiro a todos portanto, a leitura de "Ensaios sobre a lucidez", ou pelo menos uma reflexão sobre o quanto cada um de nós tem contribuído para a permanência e perpetuação deste mal da humanidade, chamado político!